Cacique denuncia demora no atendimento do primeiro SAMU indígena do Brasil: 'Socorro demorou'
Cacique critica demora no SAMU indígena pioneiro no Brasil

Não foi fácil. O grito por socorro ecoou, mas a resposta... bem, essa demorou mais do que deveria. O cacique da primeira aldeia do Brasil a contar com um SAMU exclusivamente indígena não esconde a frustração. "A gente chama, espera, e quando vem, já é quase tarde", desabafa, com a voz carregada daquela mistura de cansaço e resistência que só quem vive na pele conhece.

O serviço, pioneiro no país, foi criado para reduzir as barreiras no atendimento de emergência às comunidades originárias. Mas na prática — e aqui a gente sabe como é —, entre o papel e a vida real, existe um abismo. "Tem hora que a ambulância some no mapa, o motorista não conhece as estradas de terra, a comunicação falha", enumera o líder, enquanto ajusta o colar de sementes no pescoço, como quem prepara o próximo combate.

O que dizem os números?

Dados não oficiais (porque os oficiais, claro, ainda estão "em apuração") sugerem que o tempo médio de resposta nas aldeias é o dobro do urbano. Enquanto nas cidades a ambulância chega em 15 minutos, nas terras indígenas... "Às vezes duas horas, e olhe lá", conta uma enfermeira que pede para não ser identificada. Motivos? Desde a falta de veículos adaptados até a velha conhecida burocracia que emperra até o mais simples dos processos.

E não pense que é só uma questão de logística. Há um componente cultural que dói ainda mais: "Muitos profissionais não falam nossas línguas, não entendem nossos costumes. Como explicar que o paciente não quer ir para o hospital porque tem medo de morrer longe da aldeia?", questiona o cacique, esquentando as mãos com um chimarrão compartilhado.

O outro lado da moeda

A Secretaria de Saúde — aquela que sempre promete melhorias — garante que "os entraves estão sendo superados". Dizem ter capacitado 30 condutores indígenas só no último mês e instalado novos postos de atendimento. Mas na aldeia, ninguém viu essa turma nova passar. "Cadê?", pergunta uma jovem da comunidade, enquanto amarra o cabelo com uma faixa colorida. "Aqui a gente continua se virando com chá de boldo e reza."

Enquanto isso, o SAMU indígena — essa conquista que deveria ser motivo de orgulho — vira mais uma daquelas histórias de "quase lá". Como um remédio que chega na hora errada, ou uma ponte que não liga lugar nenhum. O cacique suspira: "Quando é coisa de índio, parece que sempre pode esperar mais um pouco. Mas dor de barriga, infarto, parto... esses não escolhem hora."