O Brasil acaba de dar um passo histórico no combate à dengue. Nesta quarta-feira (26), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária aprovou a primeira vacina do mundo contra a dengue em dose única, desenvolvida e produzida nacionalmente pelo Instituto Butantan.
Uma vitória da ciência brasileira
Depois de 12 anos de pesquisas intensivas, a vacina Butantan-DV demonstrou resultados impressionantes nos testes clínicos. A eficácia geral é de 74%, mas quando se trata de formas graves da doença, a proteção salta para 91%. O dado mais significativo vem dos cinco anos de estudos com 16 mil voluntários: a eficácia foi de 100% contra hospitalizações e mortes causadas pela dengue.
Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan, não esconde o entusiasmo: "Temos uma vitória da ciência brasileira. Temos uma vitória do desenvolvimento nacional. E temos uma arma poderosíssima de enfrentamento da transmissão da dengue".
Impacto na saúde pública
Os números da dengue no Brasil em 2024 são alarmantes: 6,5 milhões de pessoas contaminadas e quase 6 mil mortes. O Aedes aegypti tem se mostrado um adversário formidável, resistindo a agentes de saúde, venenos, armadilhas e até ao carro fumacê.
A nova vacina representa uma mudança de paradigma. Até agora, o Brasil contava apenas com a Qdenga, vacina japonesa que requer duas doses e está disponível no SUS apenas para jovens de 10 a 14 anos. A vacina do Butantan foi aprovada para pessoas de 12 a 59 anos, ampliando significativamente o público-alvo.
Distribuição e perspectivas futuras
A previsão é que a vacina comece a ser distribuída pelo Sistema Único de Saúde em 2026, com 25 milhões de doses no primeiro ano e 35 milhões em 2027. Apesar do otimismo, especialistas alertam que a imunização completa da população brasileira pode levar décadas.
Kallás explica o potencial de erradicação: "Teoricamente, sim. Se a gente vacinar um número grande de pessoas - e não temos certeza de qual é a porcentagem necessária para conseguir esse efeito - é possível que a gente consiga controlar a transmissão da doença".
O mecanismo é simples: o Aedes aegypti só transmite a doença se picar alguém já contaminado. Com uma vacina altamente eficaz, o ciclo de transmissão pode ser quebrado.
A batalha continua
Enquanto a vacina não chega a toda população, as medidas tradicionais de combate ao mosquito permanecem essenciais. Eliminar criadouros e qualquer objeto que possa acumular água continua sendo fundamental, especialmente porque o Aedes aegypti também transmite zika e chikungunya.
O pequeno frasco da vacina brasileira representa muito mais que um medicamento - é a materialização de anos de pesquisa, investimento e esperança em um futuro sem dengue.