A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a primeira vacina brasileira contra a dengue desenvolvida em dose única, um marco histórico para a saúde pública do país. O imunizante, chamado Butantan-DV, é totalmente nacional e representa uma esperança no combate à doença que afeta milhares de brasileiros anualmente.
Pesquisa e desenvolvimento
A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) teve participação fundamental nos ensaios clínicos que testaram a eficácia da vacina. Através do Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM) e da Faculdade de Medicina, a instituição integrou um grupo de 16 centros de pesquisa que colaboraram com o estudo desenvolvido entre 2016 e 2025.
O coordenador da pesquisa e professor da UFMT, Luciano Gomes, de 43 anos, destacou os desafios enfrentados durante o processo. "Nosso país possui baixa cultura de participação em pesquisa clínica então o mais difícil é a gente selecionar o voluntário", explicou. Apesar das dificuldades, a equipe conseguiu incluir 1.300 voluntários de Cuiabá e Várzea Grande, meta estabelecida pelo Instituto Butantan.
Eficácia e aplicação
A vacina Butantan-DV será destinada a pessoas na faixa etária de 12 a 59 anos e apresentou eficácia global de 74,4% nesta população. Isso significa que aproximadamente 74% dos casos da doença podem ser evitados entre pessoas vacinadas.
Uma das grandes vantagens da nova vacina é sua aplicação em dose única, o que aumenta significativamente a chance de adesão da população à imunização. "Espero que a gente consiga quebrar também um pouco essa resistência que as pessoas têm tido ultimamente à imunização", afirmou o professor Luciano Gomes.
Distribuição e impacto em Mato Grosso
A expectativa é que a vacina comece a ser distribuída para o Sistema Único de Saúde (SUS) já em dezembro, com a aplicação em massa prevista para 2026. Esta é uma notícia especialmente importante para Mato Grosso, estado que enfrenta há duas décadas alta circulação do vírus da dengue.
Dados do Ministério da Saúde mostram que Mato Grosso é o quinto estado com mais casos suspeitos de dengue no país, tendo registrado 34.962 possíveis infecções em 2025, além de 21 mortes confirmadas e outras 14 em investigação.
O estudo acompanhou os voluntários durante cinco anos, com uma equipe de até 30 pesquisadores monitorando tanto o grupo que recebeu a vacina quanto o grupo placebo. O projeto manteve mais de 90% dos voluntários participando ativamente até o final da pesquisa, um índice considerado excelente para estudos desta magnitude.