O estado do Amapá deu um passo histórico no combate ao câncer nesta sexta-feira, 5 de julho, com a inauguração do seu primeiro Centro de Radioterapia. Localizado na Zona Norte de Macapá, a nova unidade representa um investimento de R$ 16,3 milhões em equipamentos e infraestrutura, recursos provenientes do governo federal, por meio do Ministério da Saúde.
Um marco para a saúde no extremo norte
A cerimônia de inauguração contou com a presença do governador Clécio Luís e do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. A unidade, que será administrada pelo Hospital de Clínicas Dr. Alberto Lima (Hcal), tem capacidade para realizar até 900 sessões por mês, o que equivale a cerca de 50 procedimentos diários. Cada sessão de radioterapia dura aproximadamente 15 minutos.
O centro faz parte do programa Agora Tem Especialistas e tem como objetivo principal concentrar o atendimento oncológico dentro do estado. A expectativa é reduzir drasticamente a necessidade do Tratamento Fora de Domicílio (TFD). Dados oficiais revelam que, entre 2022 e 2024, 330 pacientes amapaenses precisaram deixar sua terra e suas famílias para buscar radioterapia em outros estados.
Impacto direto na vida dos pacientes
Atualmente, a Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) do estado atende 7.187 pacientes com consultas, cirurgias e quimioterapia. Agora, com o novo centro, a rede fica completa. 31 pacientes já aguardam na fila para iniciar o tratamento nas novas instalações.
O governador Clécio Luís explicou que os pacientes que já iniciaram radioterapia via TFD continuarão seus tratamentos fora do Amapá para não quebrar o protocolo médico estabelecido. "Quem está em processo de TFD também vai continuar, porque já tem uma rede acionada", afirmou.
O ministro Alexandre Padilha destacou o aspecto humano do investimento. "O tratamento de radioterapia é longo. Se você não tem esses equipamentos aqui no Estado, exige que as pessoas tenham que ir para outros Estados durante meses. A pessoa perde o trabalho, está longe da família. Há uma desestruturação, e tem muito mais dificuldade de melhorar", disse Padilha, classificando o dia como aquele em que "o Amapá garante a independência para vencer o câncer".
Capacidade e funcionamento
O centro foi projetado para funcionar por, no mínimo, 12 horas diárias. Como cada paciente geralmente necessita de um ciclo de 20 a 30 sessões, a estimativa é que a unidade tenha capacidade para atender cerca de 600 pessoas por ano.
O encaminhamento será feito pelo médico responsável, e os exames preparatórios para a radioterapia serão realizados pelo Hospital Universitário (HU). A equipe do centro será multidisciplinar, incluindo apoio psicológico para os pacientes e suas famílias.
O senador Davi Alcolumbre, também presente na inauguração, definiu o momento como um "marco para a saúde do Estado", fruto de uma luta de muitos anos. "É uma virada de chave no cuidado às famílias do Amapá", comemorou.
Um sino que simboliza esperança e recomeço
A emoção da inauguração foi personificada pela história da paciente Regiane Cardoso, que venceu um câncer de mama. Ela descobriu a doença em 2020, pouco depois de perder o marido para um câncer no esôfago. Seu tratamento de radioterapia foi realizado em Belém, em um período de mais de seis meses longe de casa.
O fim de sua jornada foi marcado pelo toque de um sino, tradição que simboliza o recomeço. O novo centro de Macapá também possui um sino. Nesta sexta-feira, Regiane o tocou, em uma homenagem carregada de significado ao marido e a todos os pacientes que ainda vão trilhar o caminho da cura.
Os dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) reforçam a urgência da nova unidade: são estimados cerca de 1.040 novos casos de câncer por ano no Amapá, sendo os mais comuns o de mama em mulheres e o de próstata em homens. O centro de radioterapia chega para mudar a realidade do tratamento oncológico no extremo norte do Brasil.