Um levantamento nacional inédito, conduzido entre 2022 e 2024, traçou um panorama alarmante sobre as condições de saúde física e mental dos profissionais que atuam no sistema penitenciário brasileiro. A pesquisa “Cenários da Saúde Física e Mental dos Servidores do Sistema Penitenciário Brasileiro” contou com a participação de mais de 22 mil trabalhadores de todas as unidades federativas do país.
Um retrato de medo, exaustão e doenças
Os números revelam uma realidade preocupante no cotidiano desses servidores. Durante o período do mapeamento, quase metade dos profissionais relatou sentir medo durante a jornada de trabalho. Este dado é ainda mais significativo ao se considerar que 53% deles lidam diretamente com a população carcerária.
O sentimento de desvalorização também é marcante: 83% dos entrevistados afirmam que seu trabalho não recebe o devido reconhecimento da sociedade. Além do aspecto psicológico, a exaustão física se mostra presente. O estudo apontou que 34,3% dos servidores se sentem exaustos muitas vezes, e 10,3% declararam estar exaustos o tempo todo.
Problemas relacionados ao sono parecem explicar parte dessa fadiga crônica. Cerca de 37,7% dos participantes disseram que frequentemente não se sentem revigorados ao acordar. Entre os principais diagnósticos de saúde reportados pelos próprios servidores, destacam-se a hipertensão, a obesidade e as doenças ortopédicas.
Resposta das autoridades e ações concretas
Diante dos resultados, o Secretário Nacional de Políticas Penais, André Garcia, foi enfático ao declarar que os dados reforçam uma urgência que o país não pode mais ignorar. “Estamos falando de profissionais que sustentam uma estrutura essencial para a segurança pública e que, por muito tempo, tiveram suas necessidades ignoradas”, afirmou.
Garcia ressaltou que cuidar desses trabalhadores vai além do bem-estar individual, sendo uma condição fundamental para o funcionamento legal, estável e eficiente do sistema prisional. A partir desse diagnóstico, a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) consolidou o compromisso de aprimorar e ampliar as ações de cuidado.
Os resultados da pesquisa, realizada pela Senappen, vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, e operacionalizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no âmbito do Projeto Valoriza: Saúde em Foco, já estão sendo usados para orientar medidas práticas.
Iniciativas em andamento
Entre as ações concretas que estão sendo implementadas, destacam-se:
- Ampliação do acesso às bolsas do Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), com participação da Espen para formações especializadas na área de saúde mental.
- Implantação do Escuta Susp, um serviço de acolhimento psicológico dedicado aos servidores da segurança pública.
Dados atualizados de novembro de 2025 mostram que o Escuta Susp já conta com 1.292 policiais penais cadastrados na plataforma, sendo 1.211 aptos para atendimento. Do total de inscritos, 56,2% são homens e 43,8% são mulheres.
O estudo representa um passo importante para dar visibilidade a uma categoria profissional que opera em um ambiente de alta tensão e risco. A expectativa é que as evidências coletadas sirvam como base para políticas públicas permanentes que garantam melhores condições de trabalho, saúde e dignidade para os servidores penitenciários em todo o Brasil.