
Imagine acordar todos os dias com uma companheira indesejada que nunca vai embora. Uma presença constante, latejante, que drena suas energias e rouba sua paz. Essa é a realidade cruel para mais de 37 milhões de brasileiros – sim, você leu direito, trinta e sete milhões – que enfrentam a dor crônica diariamente.
E o pior? O problema explodiu de tal maneira que já ultrapassou todos os outros motivos para aposentadorias precoces no país. Virou uma verdadeira epidemia invisível, mas com consequências bem visíveis para o bolso de todo mundo.
O Retrato de um Sofrimento Invisível
Dados do Ministério da Saúde – esses que a gente precisa garimpar com paciência de arqueólogo – mostram que a situação saiu completamente do controle. Das 380 mil aposentadorias por invalidez concedidas apenas no ano passado, pasmem: quase 60% foram por causa de dores que não dão trégua.
É como se uma cidade do tamanho de São Paulo inteira estivesse paralisada pela dor. E o que dói mesmo, além dos pacientes, é o caixa da Previdência Social. Só em 2024, foram R$ 42 bilhões gastos com benefícios para quem não consegue trabalhar por causa dessa condição debilitante.
Mas Que Dores São Essas?
Aí é que está o busílis. Não é aquela dor de cabeça chata depois de um dia estressante ou a musculação que exagerou na academia. Estamos falando de:
- Problemas sérios na coluna que transformam cada movimento numa tortura
- Artrites reumáticas que fazem das juntas uma arena de sofrimento
- Enxaquecas crônicas que detonam qualquer possibilidade de produtividade
- Fibromialgia – aquela condição mal compreendida que dói até no alma
E olha, a coisa é democrática: atinge desde o operário da construção civil até o executivo de multinacional. Ninguém escapa.
O Calcanhar de Aquiles do Sistema
O que mais espanta os especialistas – e aqui eu confesso que fiquei boquiaberto – é a falta de preparo do sistema de saúde para essa enxurrada de casos. Os médicos do SUS, coitados, mal têm tempo de respirar entre um paciente e outro, quem dirá investigar dores complexas que exigem horas de avaliação.
"É mais fácil receitar um analgésico potente do que investigar a raiz do problema", me confessou um clínico geral que preferiu não se identificar. A verdade nua e crua? Muitos profissionais simplesmente não estão preparados para diagnosticar direito essas condições.
E Quando a Dor Vira Caso de Justiça?
Aí a coisa fica ainda mais embolada. Com a fila do INSS mais enrolada que novelo de gato, muitos pacientes acabam buscando na Justiça o que não conseguem no sistema administrativo. E os tribunais? Estão abarrotados de ações sobre benefícios por incapacidade.
Só no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o volume de processos desse tipo aumentou 70% nos últimos três anos. Setenta por cento! É gente que não aguenta mais esperar e recorre à Justiça como último recurso.
Tem Saída Para Esse Labirinto?
Alguns estados começaram a acordar para o problema – ainda que devagar, como sempre. O Paraná, por exemplo, implementou centros de tratamento multidisciplinar que estão mostrando resultados animadores. Em vez de apenas medicar, eles oferecem:
- Acompanhamento psicológico para lidar com o aspecto mental da dor
- Fisioterapia especializada que devolve um pouco da mobilidade
- Terapias alternativas que, pasmem, muitas vezes funcionam melhor que remédios
O resultado? Quase 40% dos pacientes conseguem voltar ao trabalho em menos de um ano. Um alívio para eles e para o sistema.
No fim das contas, a dor crônica deixou de ser apenas um problema de saúde para virar uma questão econômica gravíssima. E enquanto não encararmos isso com a seriedade que merece, continuaremos patinando – e gastando rios de dinheiro que poderiam ser investidos em prevenção.
Pensem nisso na próxima vez que sentirem aquela dorzinha chata nas costas. Ela pode ser o primeiro sinal de algo maior. E maior mesmo.