Psicóloga de Harvard ensina como vencer o desprezo nos relacionamentos
Como transformar o desprezo em conexão nos relacionamentos

A ansiedade pode se transformar em sua maior aliada, segundo a psicóloga Luana Marques, professora da Universidade de Harvard. Em sua mais recente análise, ela demonstra como é possível converter o medo em ação prática e treinar a mente para superar as incertezas que surgem nos relacionamentos.

O veneno silencioso que destrói o amor

O verdadeiro perigo para o amor não está nos conflitos, mas sim no desprezo. Esse sentimento pode crescer gradualmente e acabar com qualquer relação, mas existe um caminho para romper esse ciclo destrutivo, conforme explica a especialista em sua coluna de 14 de novembro de 2025.

Luana Marques observa que "quando o desprezo entra na conversa, a conexão do casal sai de cena". Todos os casais já vivenciaram essa situação: uma discussão que começa pequena, com um comentário mal interpretado ou uma pergunta fora de contexto, e repentinamente a temperatura emocional sobe drasticamente.

Palavras duras escapam, portas batem, e o que era um diálogo se transforma em um campo minado. O silêncio que segue é pesado, carregado de distância emocional. Ambos os parceiros se perguntam: como chegamos a esse ponto?

O mecanismo invisível do desprezo

Por trás de cada frase cortante e de cada silêncio gelado, existe um sistema nervoso tentando se proteger. A psicóloga ilustra esse conceito através da história de Marcus e Ana, um casal que acompanhou em seu trabalho.

Em um episódio marcante, Marcus bateu a porta do armário com tanta força que a cozinha inteira tremeu. Suas palavras foram duras: "Você é burra. Não sabe do que está falando. Nunca acerta nada". Ana, sua esposa, congelou diante do ataque. Seus olhos baixaram, os ombros se curvaram, e ela se calou até quase desaparecer emocionalmente.

De fora, parecia uma briga conjugal comum: ele ataca, ela se retrai. Mas o que realmente estava em jogo era muito mais profundo e destrutivo do que simples raiva. Era desprezo puro.

O desprezo não é apenas irritação passageira. É uma erosão silenciosa que desgasta gradualmente a dignidade, o respeito e, finalmente, o amor. Diferente da raiva, que comunica "estou magoado", o desprezo transmite "sou melhor que você". Essa distinção é devastadora porque o desprezo não fere apenas sentimentos, mas sim a dignidade fundamental da pessoa.

Como quebrar o ciclo do desprezo

Quando alguém se sente ameaçado, o corpo reage antes mesmo da mente consciente. Um parceiro entra em modo de luta, enquanto o outro adota o congelamento como estratégia de sobrevivência. É a evitação psicológica em ação, desconectando o casal sem que percebam.

Esse é o ciclo do desprezo: Gatilho → Crença → Reação → Ataque ou Silêncio → Desconexão. Não se trata de uma simples falha de comunicação, mas sim do sistema nervoso tentando, de forma desajeitada, proteger o que está machucado.

Casais saudáveis não evitam conflitos, mas sim aprendem a pedir pausas estratégicas antes que a discussão destrua o vínculo emocional. A psicóloga de Harvard ensina um método eficaz em quatro etapas:

Primeiro, perceba os sinais de alerta que seu corpo emite: coração acelerado, mandíbula tensionada, vontade de gritar ou desaparecer da situação.

Em segundo lugar, dê nome ao que está acontecendo internamente. Diga a si mesmo: "estou ficando reativo". Essa simples verbalização ajuda o cérebro a recuperar o controle emocional.

Terceiro, peça uma pausa consciente. Avise ao seu parceiro: "Preciso de 20 minutos para não machucar nossa conversa". A pausa serve para proteger o vínculo, não para evitar o tema importante.

Finalmente, volte com curiosidade genuína. Após a pausa, substitua acusações por expressões de sentimentos. Diga: "Quando me senti questionado, fiquei com medo de parecer incompetente". Isso abre espaço para conexão em vez de defesa.

O trabalho invisível que sustenta o amor

Se o desprezo é o fogo visível, a vergonha e o medo são as faíscas invisíveis que o acendem. A cura exige nomear crenças internas, tolerar o desconforto emocional em vez de fugir dele, escolher curiosidade em vez de conquista, e proteger a dignidade do outro mesmo durante os conflitos.

Em outras palavras, permita-se sentir ameaçado sem se tornar ameaçador. Sinta medo sem desaparecer emocionalmente. Isso requer coragem genuína, e é a base de qualquer relação duradoura.

O amor não morre quando há conflito, mas sim quando o desprezo substitui a curiosidade e quando a proteção mútua deixa de estar presente no espaço compartilhado.

Antes de reagir impulsivamente, faça uma pausa consciente. Não permita que suas feridas emocionais falem mais alto do que seus valores fundamentais. A especialista finaliza com um questionamento provocador: quando você se sente desrespeitado, o que seu corpo faz primeiro, ataca ou se cala? Como seu corpo reage quando o amor é testado?

Luana Marques convida os leitores a compartilhar suas experiências em suas redes sociais, onde a conversa continua. O convite está feito para uma reflexão profunda sobre como protegemos ou destruímos nossas relações mais importantes.