
Pois é, parece que o mundo finalmente está acordando para algo que muitos de nós já sentíamos na pele. A Academia Americana de Pediatria (AAP) deu um passo monumental esta semana, algo que ressoa muito além das fronteiras dos EUA.
Eles revisaram oficialmente suas diretrizes e agora são categóricos: todas as crianças e adolescentes, sem exceção, devem passar por uma triagem anual de saúde mental. Não é mais uma sugestão, é uma recomendação firme, um protocolo a ser seguido.
Não Se Trata Apenas de Doenças Físicas
O check-up médico tradicional, aquele que mede altura, peso e aplica vacinas, está ficando para trás — ou melhor, ganhando um companheiro indispensável. A ideia central é simples, mas revolucionária: a saúde é um todo. E ignorar o bem-estar psicológico é como tratar um paciente pela metade.
Os números, afinal, são alarmantes e não deixam margem para dúvidas. Dados recentes mostram que uma em cada seis crianças, entre 2 e 8 anos, já foi diagnosticada com algum problema de saúde mental ou de desenvolvimento. Um em cada seis! Quando a gente para para pensar nisso, é de cortar o coração.
Por Que a Pressa? A Crise Já Está Acontecendo
Não é exagero chamar de crise. Os pediatras estão na linha de frente, testemunhando um fluxo cada vez maior de jovens lutando contra ansiedade, depressão e transtornos alimentares. A pandemia, claro, jogou gasolina nesse fogo, mas a verdade é que a lenha já estava lá, seca e pronta para pegar fogo.
O sistema tradicional, sabe como é, sempre foi lento. Muito lento. A criança manifesta um problema, os pais tentam marcar com um especialista… e esbarram em listas de espera intermináveis, custos proibitivos e um estigma que ainda teima em persistir. A nova diretriz da AAP joga a responsabilidade para o pediatra geral, o primeiro contato, aquele profissional de confiança da família. Ele se torna o ponto de partida, o detector inicial.
Como Funciona na Prática?
Nada de consultas longas e complexas logo de cara. A triagem pode ser feita com questionários rápidos e validados, respondidos pelos pais ou pelos próprios jovens, dependendo da idade. São ferramentas que identificam sinais de alerta — mudanças bruscas de humor, isolamento, alterações no sono ou no apetite.
Se algo fora do normal for detectado, aí sim o pediatra pode iniciar uma conversa mais profunda, oferecer orientação inicial e, o mais importante, agilizar o encaminhamento para um psiquiatra ou psicólogo infantil. É sobre fechar o circuito, ninguém fica perdido no sistema.
É uma mudança de paradigma, sem dúvida. Deixa de ser 'algo para se pensar' e vira 'algo para se fazer', assim como se faz com a carteira de vacinação. Prevenção é tudo. Identificar um problema cedo pode mudar completamente o trajectory de uma vida. Pode evitar anos de sofrimento silencioso.
E aqui, do nosso lado do mundo, a pergunta que fica é: será que o Brasil vai seguir esse exemplo? Diante de um SUS sobrecarregado e uma rede privada nem sempre acessível, o desafio é colossal. Mas reconhecer o problema é sempre o primeiro, e mais crucial, passo.