Alucinações de Bolsonaro: psiquiatra explica sintomas e descarta remédios
Bolsonaro: psiquiatra analisa sintomas de alucinação

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi preso preventivamente em regime fechado no último sábado, 22 de novembro de 2025, após tentar violar a tornozeleira eletrônica que usava para monitoramento em sua residência em Brasília.

O episódio e as alegações

Durante a audiência de custódia, Bolsonaro afirmou ter vivido uma "alucinação" e "certa paranoia" que o levaram a utilizar um ferro de solda para tentar abrir o dispositivo. O político relatou ter ouvido vozes provenientes da tornozeleira, o que teria motivado sua ação.

O psiquiatra Daniel Barros, do Núcleo Forense do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq/USP), explicou que a descrição de Bolsonaro envolve conceitos distintos da psiquiatria. Segundo o especialista, alucinação ocorre quando a pessoa percebe algo que não existe na realidade, como vozes ou sons inexistentes, caracterizando uma falha na percepção sensorial.

Diferenças entre paranoia e delírio

Já a paranoia representa uma alteração do pensamento, marcada por crenças infundadas e geralmente persecutórias. "A paranoia é um tipo específico de delírio: o delírio de perseguição", esclarece Barros.

O psiquiatra define delírio como uma crença intensa que não tem relação com a realidade, mantida mesmo quando todos os dados objetivos mostram o contrário. Essas crenças podem variar desde ideias extravagantes até aparentemente banais, mas sempre desconectadas do mundo real.

Barros considera plausível que, dentro de um quadro delirante, uma pessoa possa tomar medidas concretas para "confirmar" uma perseguição, como tentar abrir um dispositivo de monitoramento. No entanto, ele ressalta que quadros delirantes dificilmente surgem de forma abrupta, estando geralmente associados a transtornos que rompem com a realidade.

Questionamento sobre medicamentos

Bolsonaro, que estava em regime domiciliar desde agosto, atribuiu seu comportamento aos medicamentos que utilizava: pregabalina e sertralina. A equipe médica mencionou ainda possível interação com outros remédios previamente usados para crises de soluço, como gabapentina e clorpromazina.

O ex-presidente afirmou ter iniciado o uso da pregabalina cerca de quatro dias antes do episódio e não ter vivido nada semelhante anteriormente. Porém, o psiquiatra Daniel Barros descarta que esses medicamentos possam ter provocado as alterações descritas.

"A sertralina é antidepressiva, não tem esses efeitos. A pregabalina pode deixar a pessoa sonolenta ou levemente confusa, mas não produz um pensamento delirante estruturado", afirma o especialista. Ele acrescenta que mesmo a interação com gabapentina ou clorpromazina não sustentaria um quadro desse tipo.

Mudanças no tratamento médico

A equipe médica de Bolsonaro informou que o medicamento suspeito de causar o quadro de confusão mental foi suspenso. Em boletim assinado pelo cirurgião geral Claudio Birolini e pelo cardiologista Leandro Echenique, os médicos afirmaram que a medicação havia sido prescrita por outra profissional sem o conhecimento ou consentimento da equipe principal.

Os ajustes necessários na medicação foram realizados, restabelecendo a orientação anterior. De acordo com o boletim médico, Bolsonaro encontra-se estável clinicamente e passou a noite sem intercorrências, com acompanhamento contínuo e reavaliações periódicas programadas.

O caso continua sob análise das autoridades, enquanto especialistas em saúde mental destacam a complexidade do diagnóstico de condições que envolvem alucinações e pensamentos delirantes.