SP registra 95 afastamentos diários de professores por transtornos mentais
95 professores afastados por dia com transtornos mentais em SP

O estado de São Paulo enfrenta uma crise silenciosa no sistema educacional, com 95 professores sendo afastados por dia devido a transtornos mentais. Os dados alarmantes revelam o profundo desgaste enfrentado pelos educadores nas salas de aula paulistas.

Números que preocupam

Entre janeiro e setembro de 2025, o estado registrou 25,7 mil licenças médicas por problemas psicológicos entre professores da rede estadual. Esse número impressionante equivale a uma média de 95 afastamentos diários por condições como ansiedade e depressão.

Na região central do estado, a situação é igualmente grave. Cidades como São Carlos, Araraquara e outras 24 municípios contabilizaram 565 afastamentos por transtornos mentais no mesmo período, representando aproximadamente dois casos por dia na região.

Voz das professoras

Em depoimentos emocionantes, educadoras que preferiram manter o anonimato relataram a frustração e o desgaste emocional que enfrentam no cotidiano escolar. "Quando a gente precisa se afastar, no primeiro momento é uma sensação de alívio. Você volta depois e vê que a situação não mudou. Está com os mesmos conflitos tanto dentro da sala de aula quanto com a equipe", desabafou uma professora.

Outra educadora destacou o estigma social enfrentado pela categoria: "É triste ter que ouvir: 'nossa, não queria estar no seu lugar', 'você é professora? meus pêsames', 'nossa, que triste, como você aguenta isso?'".

Causas do problema

Especialistas apontam diversos fatores que contribuem para o adoecimento mental dos professores:

  • Jornada excessiva e baixos salários: o estado não paga o piso nacional e complementa a remuneração com gratificações
  • Salas superlotadas e contratação precária: cerca de 50 mil professores atuam de forma temporária
  • Violência escolar: tanto física quanto psicológica, que agrava o quadro de estresse e ansiedade

Alessandro Soares, diretor geral administrativo do Centro do Professorado Paulista, alerta sobre o impacto financeiro: "Cada afastamento precede 35 dias para cada professor. São quase 912 mil dias de afastamento. Isso gera muito custo para a educação, ao passo que se o governo investisse na parte preventiva, geraria economia e teríamos professores saudáveis".

Consequências para a educação

O cenário preocupante está afetando diretamente o interesse das novas gerações pela carreira docente. "Raramente ouço algum aluno falando: 'quero fazer pedagogia, quero ser professor'. O que mais ouço é: 'nunca serei professor'", lamentou uma das professoras entrevistadas.

Os dados foram compilados pelo Centro do Professorado Paulista da Diretoria de Perícia Médicas do Estado, revelando uma crise que demanda atenção imediata das autoridades.

Resposta do governo

A Secretaria Estadual da Educação informou que mantém ações permanentes de cuidado aos servidores, incluindo o programa Viva Bem, que já realizou mais de 650 mil atendimentos psicológicos e psiquiátricos. A pasta também destacou a realização de concurso público para a contratação de 15 mil professores do ensino fundamental e médio.

Sobre o número de alunos por sala, a Secretaria afirmou seguir a resolução de 2016, mas os números mostram que as medidas atuais não têm sido suficientes para conter a onda de afastamentos por problemas de saúde mental entre os educadores paulistas.