Tragédia em Manaus: criança de 6 anos morre após aplicação de adrenalina
Uma investigação policial e do Ministério Público do Amazonas apura as circunstâncias da morte do menino Benício Xavier de Freitas, de apenas 6 anos, ocorrida no último domingo (24) em um hospital de Manaus. O caso, que comoveu a capital amazonense, envolve a aplicação de uma dose de adrenalina intravenosa que teria sido prescrita erroneamente pela médica Juliana Brasil Santos.
Depoimentos revelam sequência de erros
A técnica de enfermagem Raiza Bentes, que atendeu a criança, prestou depoimento afirmando que seguiu rigorosamente a prescrição médica. Ela administrou a medicação de forma intravenosa e sem diluição, conforme constava no documento médico. A profissional, que tem apenas sete meses de formação, destacou que mostrou a prescrição à mãe da criança antes do procedimento.
"Eu administrei a medicação conforme a prescrição médica. Não tive auxílio, estava sozinha. A mãe questionou a via de administração, mas estava prescrito intravenoso", relatou Raiza Bentes em seu depoimento.
Reconhecimento do erro e agravamento do quadro
Segundo informações obtidas pela Rede Amazônica, a médica Juliana Brasil Santos reconheceu que errou ao prescrever adrenalina na veia de Benício. Este reconhecimento consta no relatório do hospital enviado à Polícia Civil.
A prescrição previa três doses de adrenalina, a cada 30 minutos, mas a técnica aplicou apenas uma. Pouco depois da aplicação, Benício ficou pálido, reclamou de dor no peito e teve dificuldade para respirar. A técnica afirmou que chamou imediatamente a médica responsável, que teria orientado "aguardar".
O pai, Bruno Freitas, contou que o menino foi levado ao hospital com tosse seca e suspeita de laringite. A família estranhou quando viu a prescrição de adrenalina intravenosa. "Meu filho nunca tinha tomado adrenalina pela veia, só por nebulização. Nós perguntamos, e a técnica disse que também nunca tinha aplicado por via intravenosa", relatou o pai.
Falha no atendimento e morte
Após a reação adversa, a equipe levou Benício para a sala vermelha, onde seu quadro se agravou rapidamente. A oxigenação caiu para cerca de 75% e foi necessário acionar uma segunda médica para iniciar o monitoramento cardíaco.
O menino foi transferido para a UTI no início da noite de sábado (23), onde seu estado continuou a piorar. Por volta das 23h, a equipe médica realizou a intubação, momento em que Benício sofreu as primeiras paradas cardíacas. O pai relatou que ocorreu sangramento porque a criança vomitou durante o procedimento.
O estado de Benício permaneceu instável, com oscilações rápidas na oxigenação. Às 2h55 do domingo (24), o menino não respondeu às manobras de reanimação e morreu.
Investigação e decisão judicial
O delegado Marcelo Martins informou que o caso é investigado como homicídio doloso qualificado. A médica Juliana Brasil Santos responderá às investigações em liberdade, após a concessão de um habeas corpus preventivo pela Justiça.
A defesa da médica nega as acusações, afirmando que ela prestou atendimento imediato e solicitou um antídoto para reverter o quadro. No entanto, médicos ouvidos no inquérito afirmaram que não existe medicação capaz de neutralizar uma overdose de adrenalina, sendo possível apenas oferecer suporte clínico.
A denúncia foi registrada na terça-feira (25), e tanto o Ministério Público do Amazonas quanto a Polícia Civil continuam investigando todas as circunstâncias que levaram à morte do pequeno Benício.