Uma jornada de mais de quatro mil quilômetros em busca da cura. Essa foi a trajetória do pequeno Davi, de apenas 2 anos, que saiu de Manaus, no Amazonas, com a família para encontrar tratamento em Curitiba, no Paraná. A esperança se concretizou no Hospital Pequeno Príncipe, onde ele se tornou um símbolo de vitória: seu transplante de medula óssea foi o 600º realizado pela instituição, um marco que reflete décadas de dedicação no combate a doenças graves.
A luta de uma mãe contra uma doença rara
Davi foi diagnosticado com a Síndrome de Wiskott-Aldrich (WAS), uma condição genética rara e grave ligada ao cromossomo X, que afeta principalmente meninos. A doença compromete o sistema imunológico, deixando o corpo sem defesas adequadas, e causa eczema, infecções frequentes e uma baixa contagem de plaquetas. Sem tratamento, o quadro pode ser fatal.
Para Raíssa Farias, mãe de Davi, a luta era pessoal e profundamente dolorosa. Ela já havia perdido três filhos para a mesma doença. "A gente foi correndo atrás, até o que eu não podia fazer eu meti a cara para fazer, em busca de salvar a vida dele", relata a mãe. Em Manaus, os médicos chegaram a dizer que não havia mais nada a ser feito. Foi um exame genético, o Sequenciamento do Exoma, que identificou a causa dos óbitos anteriores e apontou o caminho: o transplante de medula óssea era a única chance para salvar Davi.
A esperança renasce em Curitiba
Determinada, Raíssa tomou a iniciativa e entrou em contato diretamente com o Hospital Pequeno Príncipe em Curitiba. "Como mãe desesperada pelo tratamento dele, eu fui em busca, mandei um e-mail para o hospital por minha conta mesmo", detalha. A resposta foi a porta de entrada para uma nova esperança.
A família inteira fez testes de compatibilidade para doação de medula. A compatível perfeita surgiu de onde menos se esperava: a irmãzinha de Davi, Zoe, de apenas 1 ano de idade. No início de novembro, o procedimento foi realizado e foi um sucesso, dando a Davi a perspectiva de uma vida saudável.
Um marco para a saúde pública brasileira
O caso de Davi ilustra uma estatística significativa do hospital paranaense: 53% de todos os transplantes de medula realizados na instituição são de pacientes de outros estados do Brasil, a maioria atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Isso transforma o local em um centro de referência nacional.
"É uma equipe que é muito dedicada e entregue a cada um desses pacientes e dessas famílias. A gente fala que quando eles vêm para o transplante, eles se tornam da nossa família", afirma a médica Juliana Bach, do Serviço de Transplante de Medula Óssea do hospital.
A história do pequeno Davi, que superou a distância e o luto familiar para vencer uma doença rara, agora se confunde com a própria história do hospital. Mais do que um número, o 600º transplante representa centenas de vidas resgatadas e a prova de que, com acolhimento e medicina de excelência, mesmo as jornadas mais longas podem ter um final feliz.