O principal comitê de vacinação dos Estados Unidos aprovou uma mudança histórica no calendário de imunização infantil. Após 34 anos de recomendação universal, a primeira dose da vacina contra hepatite B para recém-nascidos deixou de ser obrigatória para todos os bebês.
O que mudou na recomendação
Nesta sexta-feira, 5 de dezembro de 2025, o Comitê Consultivo para Práticas de Imunização (Acip) votou, por 8 votos a 3, pela flexibilização da diretriz. A nova regra permite que pais adiem a primeira dose em bebês cujas mães testaram negativo para o vírus da hepatite B.
Desde 1991, os Estados Unidos adotavam a estratégia de aplicar a dose nas primeiras 24 horas de vida. Essa política, segundo estimativas, evitou aproximadamente 90 mil mortes ao longo de três décadas. Agora, para esses casos específicos, o procedimento passa a ser classificado como uma "decisão individual".
Para recém-nascidos de mães infectadas, a regra permanece inalterada: a vacinação imediata continua sendo obrigatória. A cobertura pelos planos de saúde também não sofre alterações.
Novo protocolo e alertas dos especialistas
Pelo novo protocolo, se o bebê não receber a vacina na maternidade, o início do esquema vacinal ocorrerá apenas aos 2 meses de vida. Esta é uma das mudanças que mais preocupa a comunidade médica.
Infectologistas e sociedades médicas emitiram alertas sobre os riscos desta decisão. Eles argumentam que o intervalo maior entre o nascimento e a primeira dose pode:
- Estimular a hesitação vacinal entre os pais.
- Reduzir a adesão geral ao calendário infantil de vacinação.
- Ampliar o risco de transmissão da doença.
A hepatite B é uma doença altamente transmissível através de fluidos corporais e pode ser passada da mãe para o bebê durante o parto, muitas vezes sem apresentar sintomas aparentes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) mantém sua recomendação pela aplicação da primeira dose nas primeiras 24 horas de vida.
Contexto político e repercussão
A votação foi antecedida por um processo conturbado, com duas rodadas de adiamentos e audiências tensas. Os membros favoráveis à mudança defenderam que a transmissão neonatal é rara entre mães que testaram negativo e que a nova diretriz aproxima os EUA de países como o Reino Unido, onde o esquema começa às oito semanas.
Entretanto, o debate ganhou contornos políticos evidentes. A mudança ocorre após a chegada de Kennedy ao comando do Departamento de Saúde, que substituiu todo o colegiado por profissionais alinhados a posturas mais céticas em relação às vacinas.
A decisão repercutiu no Congresso norte-americano. O senador republicano Bill Cassidy, que é hepatologista e um defensor histórico da imunização, criticou a revisão publicamente. Em nota, ele afirmou: "É um erro. A vacina é segura e eficaz. A dose ao nascer é uma recomendação, não uma imposição".
A polêmica deve continuar, colocando em evidência o delicado equilíbrio entre a autonomia individual nas decisões de saúde e as estratégias de saúde pública baseadas em evidências científicas de longo prazo.