Caso Benício: Cronologia, erro médico e tentativa de adulterar prontuário
Caso Benício: Erro médico e tentativa de adulterar prontuário

A morte do menino Benício Xavier, de apenas seis anos, em Manaus, continua a gerar comoção e busca por justiça. O caso, que envolve um erro na administração de medicamento no Hospital Santa Júlia, ganhou novos e graves detalhes, incluindo a tentativa da médica de adulterar o prontuário do paciente.

O dia que deveria ser de celebração

No último sábado, 6 de janeiro, Benício deveria estar participando da colação de grau e formatura do ABC na escola onde estudava. Em vez disso, seus pais publicaram um emocionado relato nas redes sociais, lembrando a data que tanto aguardavam. "Hoje seria o dia da sua colação e formatura do ABC. Estávamos muito ansiosos para esse momento... Ele estaria muito feliz hoje ao lado de seus amigos", escreveu a mãe. O evento na escola foi marcado por homenagens de colegas e professores ao menino, com pedidos de justiça durante a cerimônia.

A cronologia fatal do atendimento

Benício foi levado ao Hospital Santa Júlia no dia 22 de novembro com tosse seca e suspeita de laringite. De acordo com o relato da família, após receber lavagem nasal, soro e xarope, o menino recebeu três doses de adrenalina intravenosa de 3 ml, aplicadas a cada 30 minutos por uma técnica de enfermagem. O pai questionou a aplicação, pois o filho só havia recebido adrenalina por nebulização anteriormente. A técnica, Raiza Bentes Paiva, respondeu que seguia a prescrição registrada no sistema.

O estado de Benício se agravou rapidamente. Ele ficou pálido, com membros arroxeados, reclamou que "o coração estava queimando" e sua saturação caiu para cerca de 75%. Transferido para a sala vermelha e depois para a UTI por volta das 23h, o menino sofreu seis paradas cardíacas durante a intubação. Benício morreu às 2h55 do dia 23 de novembro.

Admissão do erro, defesa e acusação de adulteração

Em relatório enviado à Polícia Civil, a médica Juliana Brasil Santos reconheceu que errou ao prescrever adrenalina na veia. Ela afirmou ter informado à mãe que a medicação seria por via oral e disse ter se surpreendido por a enfermagem não questionar a prescrição. No entanto, sua defesa, liderada pelo advogado Felipe Braga, alega que a confissão foi feita "no calor do momento" e sustenta que uma falha no sistema automatizado do hospital teria alterado a via de administração registrada pela médica.

A família de Benício contestou essa versão em carta aberta, destacando que horas depois, na UTI, outra equipe prescreveu corretamente adrenalina por via inalatória no mesmo sistema, demonstrando sua estabilidade.

Um dos pontos mais graves da investigação, conduzida pelo delegado Marcelo Martins, é a acusação de que Juliana Brasil Santos tentou adulterar o prontuário médico para omitir o erro. Segundo depoimentos de pelo menos três testemunhas, a médica teria tentado acessar a prescrição original para suprimi-la e editar os dados no sistema. "A médica teria tentado obter acesso à prescrição médica original para suprimi-la", afirmou o delegado.

Investigação e consequências

O caso é investigado como homicídio doloso qualificado, com a polícia avaliando a possibilidade de dolo eventual, ou seja, indiferença em relação à vida da criança. O delegado Marcelo Martins afirmou que a tentativa de adulteração de provas seria uma causa forte para pedido de prisão, mas uma liminar concedida em um Habeas Corpus impetrado pela defesa da médica impede, por ora, qualquer segregação de liberdade.

O Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CREMAM) abriu um processo ético sigiloso para apurar a conduta de Juliana Brasil. O Hospital Santa Júlia afastou tanto a médica quanto a técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva. Ambas respondem ao inquérito em liberdade.

A tragédia do Caso Benício expõe falhas graves no atendimento médico e levanta questões cruciais sobre responsabilidade, transparência e a busca por justiça para uma família que planejava celebrar a formatura do filho, e não chorar sua ausência.