Caso Benício: 5 depoimentos apuram morte de criança por dose errada de adrenalina
Caso Benício: 5 depoimentos sobre morte por adrenalina

A investigação sobre a morte do menino Benício Xavier, de 6 anos, após receber uma dosagem incorreta de adrenalina em um hospital de Manaus, avançou com novos depoimentos colhidos pela Polícia Civil nesta terça-feira (2). Cinco pessoas, incluindo os pais da criança, um médico e três enfermeiros que atuavam na UTI do Hospital Santa Júlia no dia do óbito, prestaram esclarecimentos.

Depoimentos buscam esclarecer dinâmica do atendimento fatal

O delegado Marcelo Martins, responsável pelo caso, afirmou que o objetivo dos depoimentos é esclarecer a dinâmica do atendimento e confrontar as versões já apresentadas pelas equipes de saúde. "São da equipe médica da UTI que atenderam o Benício no dia do fato. Os objetivos consistem em entender qual foi o estado de saúde em que ele chegou na UTI e como a overdose de adrenalina repercutiu em sua condição", explicou o delegado.

Uma das enfermeiras ouvidas chegou à delegacia acompanhada de advogado e optou por não comentar o caso. No período da tarde, uma outra testemunha, também enfermeira, foi ouvida no 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP) por mais de duas horas, detalhando o que viu durante as tentativas de salvar a criança.

Erro médico admitido e contradições nas versões

A médica Juliana Brasil Santos, que prescreveu a medicação, já admitiu o erro em documento enviado à polícia. Ela narrou que havia comentado com a mãe de Benício que a adrenalina deveria ser administrada por via oral e disse ter se surpreendido por a equipe de enfermagem não questionar a prescrição intravenosa.

Em contrapartida, a técnica de enfermagem Raiza Bentes, que aplicou a dose, afirmou ter apenas seguido a prescrição médica. O hospital afastou ambas as profissionais. Para tentar dirimir as contradições, a polícia marcou uma acareação entre a médica e a técnica de enfermagem para quinta-feira (4).

Outros depoimentos já haviam sido colhidos na segunda-feira (1º), incluindo o do médico Henryko Garcia, que confirmou troca de mensagens com a dra. Juliana, e do enfermeiro Tairo Neves Maciel, que corroborou a versão de que uma enfermeira ficou sozinha no atendimento.

Sequência trágica e investigação por homicídio doloso

Benício foi levado ao Hospital Santa Júlia no dia 22 de novembro com tosse seca e suspeita de laringite. A prescrição médica incluiu três doses de adrenalina intravenosa de 3 ml a cada 30 minutos. O pai relatou que a técnica de enfermagem admitiu nunca ter aplicado o medicamento por essa via, mas seguiu a prescrição.

Após a aplicação, o menino teve uma piora súbita: ficou pálido, com membros arroxeados, reclamou que "o coração estava queimando" e sua saturação de oxigênio caiu para cerca de 75%. Intubado na UTI por volta das 23h, ele sofreu seis paradas cardíacas consecutivas. A última foi fatal, e Benício morreu às 2h55 do dia 23 de novembro.

A investigação, que já analisou prontuários, avalia a possibilidade de tratar o episódio como homicídio doloso qualificado pela crueldade. Apesar de um pedido de prisão preventiva da médica, a Justiça negou, entendendo não haver fundamentos suficientes no momento. A profissional responde ao processo em liberdade.

Além da apuração policial, o Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CREMAM) instaurou processo ético sigiloso contra a médica Juliana Brasil Santos. A polícia deve ouvir mais quatro pessoas nesta quarta-feira (3).