Caso Benício: 4 linhas de investigação e acareação em Manaus após morte de criança
Caso Benício: 4 linhas de investigação após morte de criança

A Polícia Civil do Amazonas está seguindo simultaneamente quatro linhas de investigação para esclarecer a morte do menino Benício Xavier, de apenas 6 anos, ocorrida em Manaus. O falecimento aconteceu após a aplicação incorreta de uma dose de adrenalina na veia. Nesta quinta-feira, 4 de janeiro, a médica Juliana Brasil Santos e a técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva passaram por uma acareação no 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP).

As quatro frentes da investigação policial

O delegado Marcelo Martins, responsável pelo caso, detalhou os eixos da apuração. A polícia trabalha com a possibilidade de erro da médica na prescrição da medicação. Em segundo lugar, investiga uma eventual falha da técnica de enfermagem no procedimento de dupla checagem antes de administrar o fármaco. A terceira linha analisa a responsabilidade do hospital, considerando a estrutura, os protocolos internos e possíveis falhas no sistema de prescrição. Por fim, a polícia também apura se houve erros durante as tentativas de intubação na UTI pediátrica.

"O fato de nós constatarmos eventualmente uma causa ou outra não anula as demais", reforçou o delegado Martins. A conclusão final sobre a causa da morte, segundo ele, dependerá de um exame pericial a ser realizado pelo Instituto Médico Legal (IML).

Os depoimentos e a cronologia dos fatos

Benício foi levado ao Hospital Santa Júlia no dia 22 de novembro com tosse seca e suspeita de laringite. De acordo com o relato da família, ele recebeu três doses de adrenalina intravenosa de 3 ml, aplicadas a cada 30 minutos por uma técnica de enfermagem. O pai da criança questionou a via de aplicação, mas a técnica afirmou que estava conforme a prescrição médica.

O estado do menino piorou rapidamente. Ele ficou pálido, com membros arroxeados, reclamou que "o coração estava queimando" e sua saturação de oxigênio caiu para cerca de 75%. Transferido para a UTI por volta das 23h, Benício passou por três tentativas de intubação sem sucesso. Segundo o pai, as primeiras paradas cardíacas ocorreram durante esse procedimento. No total, ele sofreu seis paradas, sendo a última fatal, às 2h55 do dia 23 de novembro.

Em seu depoimento, a técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva afirmou que apenas seguiu a prescrição médica. "Eu administrei a medicação conforme a prescrição médica. Não tive auxílio, estava sozinha. A mãe questionou a via de administração, mas estava prescrito intravenoso", relatou. Ela foi suspensa pelo Conselho Regional de Enfermagem do Amazonas (Coren-AM) nesta quinta-feira.

A defesa da médica e as falhas no sistema

A médica Juliana Brasil Santos admitiu o erro em um documento enviado à polícia e em mensagens trocadas com outro médico. No entanto, sua defesa argumenta que a confissão foi feita "no calor do momento". Os advogados sustentam que uma falha no sistema automatizado do Hospital Santa Júlia teria alterado a via de administração registrada pela médica. Eles apresentaram um vídeo para demonstrar problemas na plataforma, alegando que instabilidades no sistema contribuíram para o agravamento do quadro de Benício.

O delegado Marcelo Martins informou que pessoas da gestão do hospital serão ouvidas nos próximos dias. A investigação quer esclarecer fatos que podem ter colaborado para a tragédia, como a falta de farmacêuticos no plantão e a quantidade reduzida de enfermeiros. "Foi constatada que na data do fato, só tinha 3 enfermeiros para cinco setores", disse Martins, questionando até que ponto essa escassez interferiu no atendimento.

O caso é investigado como homicídio doloso qualificado, com a possibilidade de crueldade. A médica teve um pedido de prisão preventiva negado e está protegida por um habeas corpus concedido pela Justiça. O Hospital Santa Júlia afastou as duas profissionais e informou que não vai se manifestar sobre o caso enquanto as investigações estão em curso.