A alegria contagiante de Pedro Henrique Falcão, um bebê de apenas 1 ano e 7 meses, foi interrompida de forma trágica no dia 11 de novembro. A criança faleceu durante uma cirurgia de fimose na Maternidade de Presidente Figueiredo, no interior do Amazonas. A família atribui a morte a um grave erro na administração da anestesia.
A vida e os hábitos de Pedrinho
Conhecido carinhosamente como Pedrinho, o menino é descrito pela mãe, Stefany Falcão Lima, como uma luz que iluminava qualquer ambiente. Sua rotina era repleta de pequenos rituais de felicidade ao lado da família. Logo pela manhã, após o banho e o "dadau" (como chamava o leite), ele já pedia a caixa de som do avô para ouvir seu cantor favorito, Pablo.
A música "Quem ama não machuca" era sua preferida. Ao som dela, Pedrinho cantava e dançava sem parar, criando memórias que hoje são um consolo doloroso para os familiares. As tardes eram dedicadas a correr atrás das galinhas no sítio dos avós ou, quando não podia ir, a dar uma volta de carro com o avô antes de dormir.
Outro hábito diário era a ida à padaria do bairro, sempre acompanhando o avô para comprar o pão. O pão de queijo era seu favorito, e mesmo com sua tenra idade, ele conquistava a simpatia de todos por onde passava.
O desenrolar do caso e as acusações
Tudo começou quando Pedro Henrique foi levado a uma Unidade Básica de Saúde (UBS) com dores no ouvido. Durante a consulta, um pediatra identificou que o bebê tinha fimose e iniciou um tratamento. Dias depois, a criança retornou à UBS e foi encaminhada para cirurgia no hospital.
Stefany relata que a tragédia ocorreu no centro cirúrgico. Ela afirma que o anestesiologista, Orlando Calendo Ignacio Astampo, iniciou a intubação sem uma ventilação adequada e não pediu ajuda imediatamente quando a situação se complicou.
"Ao notar que a saturação e os sinais vitais de meu filho estavam caindo progressivamente, e percebendo a inércia do anestesiologista em buscar ajuda adequada, eu mesma pedi para a enfermeira chamar o pediatra", disse a mãe em depoimento.
Documentos obtidos pela reportagem confirmam que o pediatra chegou à sala e iniciou manobras de reanimação. Durante o atendimento, ele questionou o anestesiologista sobre as medicações usadas, mas não obteve resposta imediata. O profissional também registrou que a sala não estava preparada para atender pacientes pediátricos.
Investigação e consequências
O caso foi registrado no 37º Distrito Integrado de Polícia (DIP) de Presidente Figueiredo no dia 20 de novembro. O delegado Valdinei Silva afirmou que a investigação foi aberta como homicídio culposo, por possível imperícia médica. Os depoimentos já começaram a ser colhidos.
"Vamos solicitar documentação do hospital, ouvir também toda a equipe que estava no momento do procedimento para apurar a responsabilidade", explicou o delegado. Ele acrescentou que, por enquanto, não vê necessidade de prisão preventiva do médico, mas que a medida pode ser reconsiderada se houver embaraços na investigação.
O diretor clínico da unidade, Daniel Mota, confirmou que o anestesiologista pediu exoneração após o incidente. "Segundo ele, não tinha mais condições, até mesmo psicológicas, de continuar na unidade", disse Mota, acrescentando que a família já tem acesso a toda a documentação do caso e que outro profissional já assumiu a função.
Enquanto a Polícia Civil apura as circunstâncias da morte, a família de Pedro Henrique tenta lidar com a perda irreparável de um menino que tinha a música e o carinho da família como sua maior alegria.