Um comunicado oficial da farmacêutica Novo Nordisk trouxe esclarecimentos importantes para milhares de mulheres no Brasil que utilizam medicamentos à base de semaglutida, como Ozempic e Wegovy, e também fazem uso de anticoncepcionais orais. A dúvida sobre uma possível interferência entre os tratamentos, que circulava em redes sociais e consultórios, foi abordada com base em um parecer técnico de uma das principais entidades médicas do país.
Posicionamento oficial e base científica
Em um posicionamento atualizado, a Novo Nordisk, empresa dinamarquesa fabricante dos medicamentos, se baseou em um documento divulgado em julho de 2025 pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). O parecer, validado pela presidente da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da entidade, Ilza Maria Urbano Monteiro, analisou a segurança do uso combinado.
A preocupação inicial partia do fato de que os agonistas do GLP-1, classe dos remédios para diabetes e obesidade, retardam o esvaziamento gástrico. Isso teoricamente poderia afetar a absorção de outros medicamentos orais. No entanto, a conclusão foi clara: "Estudos realizados com a semaglutida não demonstraram impacto relevante na eficácia dos contraceptivos hormonais orais".
Portanto, a orientação é que as pacientes podem manter o uso dos contraceptivos durante o tratamento com semaglutida, seja na versão injetável semanal (Ozempic, Wegovy) ou na oral (Rybelsus), desde que com o devido acompanhamento médico.
Quando interromper o tratamento: o alerta para a gravidez planejada
Apesar da segurança na associação com anticoncepcionais, a Novo Nordisk fez uma recomendação crucial para mulheres que planejam engravidar. Com base na bula do medicamento, a empresa orienta que a terapia com semaglutida seja descontinuada com antecedência.
A suspensão deve ocorrer ao menos dois meses antes de uma gravidez planejada. O motivo é o longo tempo que a molécula leva para ser completamente eliminada do organismo. Essa precaução visa garantir a máxima segurança para a mãe e o feto, uma vez que os dados sobre o uso do medicamento durante a gestação ainda são limitados.
Atenção redobrada com a tirzepatida (Mounjaro)
O parecer da Febrasgo também abordou outro medicamento similar, a tirzepatida, presente no Mounjaro. Neste caso, a orientação é diferente e exige mais cuidado. A revisão indicou que a tirzepatida pode causar uma redução clinicamente relevante nas concentrações dos hormônios contraceptivos no sangue.
Esse efeito é mais significativo nas primeiras quatro semanas de uso e após cada ajuste de dose. Em seu site, a fabricante Eli Lilly confirma a informação e recomenda que pacientes em uso de pílula conversem com seu médico antes de iniciar o Mounjaro. A empresa sugere que o médico pode recomendar um método contraceptivo adicional ou diferente durante esse período crítico.
Resumo das orientações para pacientes
Para clareza, seguem as principais recomendações baseadas no comunicado e no parecer da Febrasgo:
- Semaglutida (Ozempic, Wegovy, Rybelsus): O uso de contraceptivos orais pode ser mantido, com monitoramento médico. Para uma gravidez planejada, a medicação deve ser suspensa pelo menos dois meses antes.
- Tirzepatida (Mounjaro): Requer atenção especial. Contraceptivos orais podem ter sua eficácia reduzida. É recomendado discutir com o médico a troca por outro método (como DIU ou implante) ou o uso de método de barreira associado, especialmente nas primeiras quatro semanas de tratamento e após cada aumento de dose.
- Recomendação geral: Oferecer métodos contraceptivos de longa duração e alta eficácia (como DIUs ou implantes) a todas as usuárias de agonistas do GLP-1 é uma estratégia segura, visto que o potencial teratogênico desses medicamentos para perda de peso ainda não é totalmente conhecido.
- Gestão e amamentação: Não há evidências de segurança para o uso desses medicamentos durante a gravidez e a amamentação. A suspensão antecipada é a conduta indicada.
O esclarecimento da farmacêutica e o embasamento da Febrasgo servem para orientar tanto os profissionais de saúde quanto as pacientes, garantindo que os tratamentos para obesidade e diabetes tipo 2 sejam realizados com máxima segurança e informação, especialmente no que diz respeito ao planejamento reprodutivo.