Prolapso genital: 1 em cada 12 mulheres sofre após parto; conheça
Prolapso genital afeta 1 em cada 12 mulheres após parto

Da busca no Google ao movimento pela saúde pélvica feminina

Há quase dez anos, Helen Ledwick digitou no Google uma pergunta que mudaria sua vida: "por que sinto que meus órgãos estão caindo". A ex-jornalista e podcaster da BBC descobriu que tinha prolapso de órgão pélvico (POP), uma condição que afeta aproximadamente 1 em cada 12 mulheres após o parto, mas que permanece pouco discutida na sociedade.

O que é prolapso genital e como identificar

O prolapso ocorre quando um ou mais órgãos da pelve - como bexiga, intestino ou útero - se deslocam de sua posição normal e pressionam a parede vaginal, criando uma protuberância que pode ser sentida internamente ou externamente. Não é uma condição fatal, mas impacta significativamente a qualidade de vida, relacionamentos e saúde mental.

Os sintomas incluem sensação de peso ou algo descendo pela vagina, descrita por algumas mulheres como "sentar em uma bola de tênis". No caso de Helen, o choque veio duas semanas após um parto difícil do segundo filho. "Levantei do sofá e de repente senti tudo se mover", recorda. "Foi como quando um absorvente interno está fora do lugar. Você sente que algo está errado."

Confusa e assustada, ela usou um espelho e o celular para investigar o que acontecia. "Eu nunca tinha ouvido a palavra prolapso antes", confessa. Desde que começou a falar sobre o assunto, percebeu que, apesar de comum, permanece um tabu.

Do diagnóstico à transformação em ativista

O diagnóstico confirmado por um médico trouxe confusão e medo. "Eu esperava uma explicação, um tratamento, alguma urgência. Mas o que recebi foi falta de certeza", relata Helen. As orientações iniciais foram evitar atividades que pudessem agravar o quadro: correr, saltar ou carregar peso. "Parecia que o conselho era: não viva a sua vida", desabafa.

O isolamento emocional foi mais desafiador que os sintomas físicos. "Você vive com vergonha, silêncio e solidão", explica. "Como não se fala sobre isso, você acha que é a única pessoa no mundo passando por aquilo."

Buscando apoio, Helen recorreu ao Instagram e encontrou outras mulheres igualmente ansiosas e confusas - algumas com vergonha de buscar ajuda. Essa descoberta a motivou a criar um podcast e escrever o livro "Why Mums Don't Jump" (Por que Mães Não Pulam), oferecendo uma plataforma para mulheres compartilharem experiências e quebrarem o silêncio sobre saúde pélvica.

"Eu estava com raiva porque ninguém falava sobre isso. Então decidi falar", afirma. "Quis dar às mulheres o conhecimento que custou tanto a encontrar, e o conforto de saber que não estavam sozinhas."

Causas, sintomas e tratamentos disponíveis

Segundo a médica Nighat Arif, especialista em saúde feminina, o caso de Helen é comum e os sintomas nem sempre são visíveis. "Às vezes, não há um caroço aparente, apenas uma sensação de pressão, que pode estar na lombar, na frente ou mais acima, perto do umbigo", esclarece. "Os sintomas também podem piorar durante o sexo, outro tema ainda muito tabu."

As principais causas do prolapso incluem:

  • Parto, especialmente os difíceis
  • Levantamento de peso excessivo
  • Sobrepeso e obesidade
  • Prisão de ventre crônica
  • Histerectomia (em alguns casos)

A ginecologista Christine Ekechi explica que mulheres com prolapso podem notar inchaço ou saliência dentro da vagina "porque houve enfraquecimento dos ligamentos do assoalho pélvico, o que pode deslocar, por exemplo, a bexiga".

De acordo com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o diagnóstico geralmente é confirmado através de exame físico com a mulher em posição ginecológica e realização da manobra de Valsalva.

Os tratamentos disponíveis incluem:

  • Exercícios para o assoalho pélvico
  • Mudanças no estilo de vida
  • Pessários vaginais (dispositivos de suporte)
  • Cirurgia em casos mais avançados

Superação e nova perspectiva de vida

Para Helen Ledwick, o que começou como uma busca solitária no Google transformou-se em um movimento para ajudar outras mulheres a reconhecer o problema e buscar ajuda. Sua recuperação foi lenta, mas transformadora.

"Foi um processo longo, de fortalecimento gradual, com exercícios pós-parto e treinos de força", conta. Posteriormente, consultou uma fisioterapeuta que a auxiliou a voltar a correr - um marco significativo, pois acreditava que nunca mais conseguiria.

Atualmente, Helen está realizando mais do que imaginava possível e inscreveu-se para uma corrida de 10 km. "Me sinto bem e aprendi a lidar com os sintomas. Ainda tenho prolapso, mas ele já não comanda minha vida como antes. Sinto que estou vencendo a batalha."

Seu caso ilustra a importância de quebrar tabus e promover informação qualificada sobre condições que afetam a saúde feminina, mas que frequentemente são negligenciadas por vergonha ou desconhecimento.