OMS lança primeiras diretrizes globais para infertilidade que afeta 1 em cada 6
OMS: 1 em cada 6 pessoas sofre com infertilidade no mundo

A Organização Mundial da Saúde (OMS) marcou um marco histórico na saúde pública global ao lançar suas primeiras diretrizes oficiais para prevenção, diagnóstico e tratamento da infertilidade. O documento, divulgado em 28 de novembro de 2025, revela que 17,5% da população mundial em idade reprodutiva – equivalente a uma em cada seis pessoas – enfrenta problemas de infertilidade.

Um problema invisível nas políticas públicas

A OMS destaca que, apesar da infertilidade ser tão comum quanto condições amplamente discutidas como diabetes ou depressão, o tema permanece negligenciado em muitos sistemas de saúde. A organização aponta que a maioria dos países não oferece financiamento adequado, diretrizes clínicas atualizadas ou serviços organizados para atender essa demanda.

Como consequência dessa lacuna, pessoas e casais precisam arcar sozinhos com exames caros e longos tratamentos, frequentemente enfrentando frustrações sucessivas. A entidade reforça que investir em cuidado reprodutivo não significa estimular altas taxas de natalidade, mas sim garantir um direito básico frequentemente negado pela dificuldade de acesso a avaliação e tratamento.

Um dado alarmante revelado pelas diretrizes mostra que 36% das mulheres com dificuldade para engravidar relatam ter sofrido violência por parte de seus parceiros, reflexo direto do estigma e da pressão cultural sobre a fertilidade feminina.

Estratégias de prevenção e diagnóstico

No capítulo dedicado à prevenção, a OMS recomenda que informações sobre infertilidade – incluindo impacto da idade, sinais de alerta e fatores de risco – sejam oferecidas em escolas, unidades básicas de saúde e serviços de saúde sexual.

A organização também destaca a importância de mudanças no estilo de vida, sugerindo que profissionais de saúde orientem sobre alimentação, atividade física, consumo de álcool e controle do peso antes e durante as tentativas de engravidar.

O tabagismo recebe atenção especial, com recomendação para que todo usuário de cigarro receba orientação para cessar o uso em qualquer atendimento de saúde. As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) também são destacadas como foco de prevenção, já que podem levar à infertilidade quando não tratadas adequadamente.

Para o diagnóstico, a OMS orienta que a investigação siga uma sequência racional e custo-efetiva. Em mulheres com ciclos menstruais regulares, a entidade recomenda confirmar a ovulação com um simples exame de progesterona na fase lútea, substituindo ultrassons seriados mais custosos.

A organização reforça que a idade continua sendo o principal indicador da reserva ovariana, e que exames adicionais como AMH ou contagem de folículos nem sempre mudam a conduta médica.

Tratamentos: do básico ao avançado

As diretrizes propõem uma progressão gradual nos tratamentos, começando pelas opções mais simples e acessíveis. Para mulheres com síndrome dos ovários policísticos (SOP), o medicamento letrozol é considerado mais eficaz do que clomifeno ou metformina.

Quando as medicações orais não funcionam, o próximo passo são as gonadotrofinas, hormônios injetáveis que estimulam a ovulação. A OMS desestimula a cirurgia conhecida como "ovarian drilling" por ser invasiva e trazer riscos sem vantagens claras em relação às opções medicamentosas.

Nos casos de doença tubária, a escolha do tratamento depende da gravidade e da idade da paciente. Mulheres com menos de 35 anos e lesões leves ou moderadas podem tentar cirurgia das trompas primeiro, enquanto em casos graves ou acima dos 35 anos, a fertilização in vitro é preferida.

Para homens com parâmetros alterados no espermograma, a OMS não recomenda suplementos antioxidantes por falta de evidência robusta, mas sugere tratamento cirúrgico ou radiológico na presença de varicocele.

Em casos de infertilidade sem causa aparente, a orientação é começar pelo acompanhamento do casal por três a seis meses, reforçando hábitos saudáveis e orientando sobre o período fértil. Se a gestação não ocorrer, a próxima etapa é a inseminação intrauterina com estimulação leve, avançando para fertilização in vitro somente quando essa alternativa falha.

A OMS ressalta que mesmo na FIV, a técnica convencional deve ser priorizada, reservando a ICSI – onde um espermatozoide é injetado diretamente no óvulo – apenas para situações com claro fator masculino envolvido.