Uma mulher foi formalmente denunciada pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) após realizar um procedimento estético que causou lesões gravíssimas em uma modelo na cidade de Jaraguá do Sul, no Norte do estado. A acusada, Vanderléia de Fátima Andrade Santos, agora responde a um processo criminal por uma série de crimes.
Denúncia aceita pela Justiça
A denúncia contra Vanderléia foi apresentada em 17 de novembro e aceita pela Justiça no dia 28 do mesmo mês. Ela é acusada de estelionato, lesão corporal gravíssima, exercício ilegal da medicina, desobediência, perigo à vida ou saúde e infração ao Código de Defesa do Consumidor.
Além da ação penal, a 9ª Promotoria de Justiça requereu uma indenização mínima de R$ 50 mil para reparar os danos morais e estéticos sofridos pela vítima, a modelo Karim Kamada, de 51 anos.
Procedimento traumático e recuperação lenta
Karim Kamada realizou as sessões com a chamada caneta pressurizada em maio e junho, aplicadas nos glúteos e nas coxas. O procedimento, vendido como seguro e sem riscos, resultou em uma série de complicações severas.
A modelo desenvolveu necrose, dores intensas, vermelhidão, febre local, inflamação severa, nódulos e celulite infecciosa. As consequências foram tão graves que ela precisou ser submetida a duas cirurgias e iniciar tratamento com antidepressivos.
Em entrevista, Karim relatou que suas lesões estão em fase de melhora, mas o processo é longo. "Continuo em tratamento porque é uma região de compressão, os glúteos, e formou-se uma cicatriz com risco de evoluir para queloide", explicou. Um cirurgião plástico que a avaliou estimou que a recuperação completa pode levar de um ano e meio a dois anos.
Impacto na carreira e fiscalização da clínica
Karim buscou o procedimento estético justamente para retomar sua carreira como modelo. No entanto, o resultado desastroso teve o efeito oposto. Ela conta que perdeu oportunidades de trabalho e, atualmente, só realiza testes em que seu corpo não aparece, devido às cicatrizes. "Ainda não sei como será a aceitação dos clientes", declarou.
Após a denúncia da modelo, a Vigilância Sanitária de Jaraguá do Sul interditou a clínica de Vanderléia em julho. No entanto, em uma nova fiscalização realizada em setembro, o órgão flagrou que as atividades continuavam sendo realizadas no local, apesar da interdição, e lavrou um auto de infração.
Riscos da caneta pressurizada
A presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia em Santa Catarina, Mariana Sens, alerta sobre os perigos do dispositivo usado no caso. A caneta pressurizada empurra substâncias pela pele usando pressão, sem agulha. Segundo a especialista, o equipamento não permite controle preciso de dose, profundidade ou local de depósito, que são requisitos essenciais para a segurança em qualquer procedimento injetável.
O caso segue em tramitação na Justiça, enquanto a modelo Karim Kamada segue focada em seu tratamento, na esperança de uma recuperação total.