Ultraprocessados já são 20% das calorias dos brasileiros, alerta Rita Lobo
Ultraprocessados: 20% das calorias dos brasileiros

A chef de cozinha Rita Lobo, fundadora do site Panelinha, participou de um evento internacional em Londres para discutir um dos maiores desafios da alimentação moderna: o avanço dos alimentos ultraprocessados. A convite da revista Lancet, que lançou uma série especial sobre o tema, a especialista brasileira alertou para os riscos desses produtos à saúde humana.

O perigo invisível na nossa mesa

Os números revelam uma realidade alarmante. No Brasil, os ultraprocessados já respondem por cerca de 20% das calorias diárias consumidas pela população, segundo pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP. Em países de alta renda, como o Reino Unido, esse índice ultrapassa os 50%.

Rita Lobo explica como identificar esses produtos: "Leia a lista de ingredientes do rótulo. Se tiver nomes de coisas que você não tem na sua cozinha, deixe no supermercado". A chef ressalta que esses itens são formulações industriais que o corpo não reconhece como comida genuína.

Doenças crônicas em ascensão

O consumo excessivo de ultraprocessados está diretamente relacionado ao aumento de doenças crônicas não transmissíveis. Obesidade, problemas coronários, diabetes e alguns tipos de câncer estão entre as condições associadas a esses alimentos.

A revista Lancet reuniu 43 pesquisadores de diferentes países em três artigos científicos que pedem a adoção de políticas públicas para combater o avanço dos ultraprocessados. Segundo Rita Lobo, "não basta só os indivíduos fazerem escolhas melhores" - é necessário que governos criem mecanismos que facilitem o acesso à comida de verdade.

O papel da indústria e a desumanização da alimentação

A transformação dos hábitos alimentares tem raízes profundas na sociedade. Com a inserção das mulheres no mercado de trabalho, a cozinha se tornou uma "terra de ninguém", criando espaço para a indústria oferecer soluções práticas, porém prejudiciais à saúde.

Rita Lobo critica o que chama de "reducionismo nutricional": "Quando você passa a escolher a comida só pelo nutriente que ela vai te entregar, você perde a referência do que é comida de verdade". Esse fenômeno faz com que as pessoas troquem alimentos naturais por produtos industrializados sob a justificativa de obter nutrientes específicos.

Cozinhar como ferramenta de transformação

Para a chef, duas coisas são essenciais para uma alimentação saudável: saber cozinhar e planejar as refeições. "Não existe querer ter uma alimentação saudável e não saber cozinhar", afirma. Ela compara a habilidade culinária com a leitura e escrita - não se nasce sabendo, mas todos podem aprender o básico.

O planejamento semanal das refeições, prática comum entre as avós, surge como solução prática para manter uma dieta balanceada. "Se você decide o que vai comer só na hora da fome, você vai fazer piores escolhas", alerta.

O prato brasileiro como modelo nutricional

Rita Lobo defende o tradicional prato feito brasileiro como exemplo de alimentação equilibrada. O arroz com feijão forma uma potência nutricional, complementando-se em aminoácidos essenciais. Juntos com uma proteína e legumes, o PF contempla quatro dos cinco grupos alimentares necessários para uma dieta saudável.

A diferença de custo entre comida de verdade e ultraprocessados também preocupa a especialista. Enquanto no Brasil os preços são similares, em países como Inglaterra e Estados Unidos, os alimentos saudáveis são significativamente mais caros.

Rita Lobo finaliza com um alerta: "Quanto menos a gente comer comida de verdade, mais baratos vão ficar os ultraprocessados e mais caras vão ficar as opções realmente saudáveis". A mudança, segundo ela, começa na conscientização e no retorno às panelas.