Queijos gordurosos podem reduzir risco de demência em 13%, aponta estudo de 25 anos
Queijos gordurosos associados a menor risco de demência

Um estudo de longo prazo publicado na revista científica Neurology trouxe uma revelação surpreendente sobre a relação entre dieta e saúde cerebral. A pesquisa, que acompanhou participantes por cerca de 25 anos, sugere que o consumo regular de queijos com alto teor de gordura pode estar associado a um menor risco de desenvolver demência.

Metodologia robusta e acompanhamento prolongado

A investigação analisou dados de 27.670 adultos com idades entre 45 e 73 anos, sendo a média de 58 anos e aproximadamente 60% de mulheres. Um critério fundamental foi que nenhum participante tinha diagnóstico ou sinais de demência no início do estudo, nos anos 1990.

A avaliação dietética inicial foi minuciosa, combinando um diário alimentar de sete dias, um questionário sobre hábitos do último ano e uma entrevista presencial com profissionais treinados. O objetivo era capturar o padrão alimentar habitual, não apenas uma semana isolada.

Resultados: destaque para queijos e cremes gordurosos

Os pesquisadores categorizaram os laticínios pelo teor de gordura. Queijos com mais de 20% de gordura – como brie, gouda, cheddar, parmesão e muçarela – foram classificados como "gordurosos". Cremes com mais de 30% de gordura e laticínios como leite e iogurte também foram analisados separadamente.

Após ajustar fatores como idade, escolaridade, atividade física e condições de saúde, os resultados mostraram associações significativas:

  • Consumo de queijo gordo: Pessoas que ingeriam cerca de 50 gramas ou mais por dia (equivalente a duas fatias médias) apresentaram 13% menos risco de desenvolver demência em geral e 29% menos risco de demência vascular.
  • Consumo de creme gordo: A ingestão de 20 gramas ou mais diárias foi associada a um risco aproximadamente 16% menor de demência ao longo dos anos.

Produtos com baixo teor de gordura, leite, iogurte e manteiga não mostraram uma relação clara com o risco da doença.

Especialistas pedem cautela na interpretação

A nutricionista Lara Natacci, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN), elogia o tamanho e a duração do estudo, mas ressalta seus limites. "Ele mostra uma associação estatística, mas não prova que o queijo gordo seja a causa dessa proteção", explica.

Um dos principais pontos de atenção é que a dieta foi avaliada apenas no início da pesquisa. "É muito provável que os participantes tenham mudado sua alimentação, peso e outros hábitos de vida ao longo de décadas", pondera Natacci.

Outro fator crucial é que, no início do estudo, quem consumia mais queijo gorduroso também tinha, em média, um perfil de saúde mais favorável: maior escolaridade, menos doenças crônicas e hábitos mais saudáveis. "É muito difícil separar o efeito do alimento do efeito do estilo de vida como um todo", afirma a especialista.

Prevenção da demência: um conjunto de fatores

Natacci reforça que a evidência mais sólida para a prevenção da demência não está em um alimento específico, mas em um conjunto de práticas. Entre elas estão:

  • Controle da pressão arterial, diabetes e colesterol.
  • Manutenção de atividade física regular.
  • Boa qualidade de sono.
  • Preservação de conexões sociais.
  • Alimentação equilibrada, rica em verduras, legumes, frutas, grãos integrais, peixes e gorduras de boa qualidade.

O queijo gorduroso, portanto, não deve ser visto como um alimento "milagroso". "Ele continua sendo calórico, rico em gordura saturada e em sal. Em pessoas com colesterol elevado, doença cardiovascular ou excesso de peso, isso precisa ser avaliado individualmente", conclui a nutricionista.

A pesquisa, publicada em dezembro de 2025, abre novas perspectivas para a compreensão da relação entre nutrição e saúde cerebral, mas destaca a complexidade de isolar o efeito de um único alimento em meio a um contexto amplo de vida e hábitos.