Um protesto reuniu familiares das vítimas em Manaus, enquanto novas informações graves surgem no caso que investiga a morte do menino Benício Xavier, de apenas 6 anos. O delegado Marcelo Martins revelou, nesta segunda-feira (15), que o Hospital Santa Júlia cadastrou a médica Juliana Brasil em uma plataforma do Ministério da Saúde como pediatra, mesmo a profissional não possuindo a especialização na área.
Cadastro irregular e falsidade ideológica
A informação foi constatada através de consulta ao Cadastro Nacional de Especialistas (CNE). O delegado Marcelo Martins foi enfático ao afirmar que a declaração de que Juliana era pediatra partiu do próprio hospital, não da médica. O CNE é um sistema que mapeia a distribuição de profissionais de saúde no Brasil, e seus dados são alimentados por fontes como o CNES, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (AMB).
Martins alertou que o funcionário do hospital responsável pelo cadastro incorreto pode responder criminalmente por falsidade ideológica. "Essa é uma outra circunstância que será apurada em termos de responsabilização criminal", declarou o delegado. O Hospital Santa Júlia, até o momento, não se pronunciou sobre o fato de Juliana Brasil atuar no setor de pediatria sem a devida especialização.
Uso de carimbo falso e novos crimes
As investigações da Polícia Civil avançaram para outro ponto crucial: a forma como a médica se identificava. De acordo com o delegado, Juliana Brasil utilizava carimbo e assinaturas com a referência à especialidade de pediatria, uma prática proibida pelo CFM para quem não possui o título oficial.
Essa conduta, segundo Martins, configura os crimes de falsidade ideológica e uso de documento falso. "Todas as regulamentações do Conselho Federal de Medicina indicam que o médico que não possui uma especialização não pode se identificar de nenhuma forma com nenhuma referência a uma especialidade que ele não possui, e ela fez isso", explicou. Assim, a médica agora responde, além do homicídio doloso por dolo eventual, por esses dois novos crimes.
A defesa de Juliana Brasil argumentou à Rede Amazônica que, embora não tivesse o título de especialista, ela era formada desde 2019 e atuava legalmente na área, acumulando experiência prática. Os advogados informaram que ela pretendia realizar a Prova de Título da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) ainda em dezembro.
A sequência fatal que levou à morte de Benício
O caso tem como origem o atendimento a Benício Xavier. Segundo o pai, Bruno Freitas, o menino foi levado ao Hospital Santa Júlia no dia 22 de novembro com tosse seca e suspeita de laringite. A médica Juliana Brasil prescreveu, entre outros procedimentos, três doses de adrenalina intravenosa, de 3 ml a cada 30 minutos.
A família estranhou a prescrição, pois a criança só havia recebido adrenalina por nebulização anteriormente. A técnica de enfermagem Raiza Bentes Praia, responsável pela aplicação, também teria dito nunca ter feito a aplicação intravenosa, mas seguiu a prescrição.
Logo após a primeira dose, o estado de Benício piorou drasticamente. Ele foi levado à sala vermelha, sua oxigenação caiu para cerca de 75% e foi necessário acionar outra médica. Transferido para a UTI, seu quadro se agravou, necessitando de intubação por volta das 23h. Durante o procedimento, o menino sofreu paradas cardíacas. Benício não resistiu e faleceu às 2h55 do dia 23 de novembro.
O Hospital Santa Júlia informou, em nota, que afastou a médica e a técnica de enfermagem e que uma investigação interna foi aberta pela Comissão de Óbito e Segurança do Paciente. Enquanto isso, a Polícia Civil continua colhendo depoimentos e analisando documentos para esclarecer todas as responsabilidades no caso.