Uma nova pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) trouxe uma resposta valiosa para os amantes da bebida mais popular do Brasil: qual é a melhor maneira de preparar o café para aproveitar ao máximo seus benefícios antioxidantes? O estudo, conduzido pela Faculdade de Saúde Pública, analisou combinações comuns do dia a dia para medir a preservação dessas substâncias protetoras.
O método: testando os hábitos reais dos brasileiros
A nutricionista Camila Crivelli, sob orientação da professora Elizabeth Torres, liderou a investigação. A equipe decidiu focar em preparações que refletem o consumo cotidiano. Foram analisadas oito variações, combinando café com cafeína e descafeinado, cada um nas versões puro, com açúcar, com leite e com leite e açúcar.
"Escolhemos combinações que reproduzem o hábito da população, usando as marcas mais comuns e preparo com coador de papel", explicou Camila Crivelli. Os resultados foram apresentados na 14ª Conferência Internacional de Dados Alimentares da FAO, em Roma, em dezembro de 2025.
Resultados: puro e simples é a chave
Os dados foram claros. O café puro apresentou os maiores valores antioxidantes. Entre os cafés puros, a versão regular (com cafeína) se destacou em relação ao descafeinado. "Isso reforça o papel antioxidante da cafeína, que vai além de um simples estimulante", destacou a nutricionista.
Por outro lado, a adição de leite foi a combinação que mais reduziu a atividade antioxidante, independentemente do tipo de café. A hipótese é que as proteínas do leite se ligam aos compostos fenólicos do café, dificultando sua absorção pelo organismo.
O açúcar teve um impacto menor. Em algumas preparações, os níveis de antioxidantes se mantiveram relativamente altos. Uma explicação possível é que, ao ser aquecido, o açúcar participa de reações químicas como a de Maillard, que pode gerar novas moléculas com potencial antioxidante.
Fatores que vão além do preparo
O estudo da USP dialoga com pesquisas anteriores do mesmo grupo, que analisaram outras variáveis. Um trabalho mostrou que o café em cápsula libera mais compostos antioxidantes do que o filtrado, devido à alta pressão e temperatura das máquinas. No entanto, o volume consumido é diferente: enquanto as cápsulas são servidas em doses pequenas, o café coado é normalmente consumido em copos de 200 ml ou mais, várias vezes ao dia.
Quanto ao grau de torra, tanto a literatura científica quanto os estudos do grupo indicam que a torra média é a mais indicada para preservar os antioxidantes. A torra muito escura (italiana) pode degradar parte desses compostos benéficos. A qualidade do solo onde o café é cultivado também é um fator crucial, influenciando diretamente o valor nutricional do grão.
Quantidade ideal e benefícios comprovados
Para quem busca os benefícios sem os riscos do excesso, a recomendação é clara. Para cafés coados, o ideal é ingerir até três xícaras de 200 a 220 ml por dia, o que geralmente corresponde a seis ou sete colheres de sopa de pó para um litro de água. Para expressos, a sugestão é não ultrapassar cinco ou seis copinhos diários.
Essa quantidade é considerada segura e benéfica até os 65 anos, conforme explicou o cardiologista Luiz Antonio Machado César, do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da FMUSP. Exceder esse limite pode inverter a equação, trazendo mais riscos – como ansiedade e taquicardia – do que benefícios.
Os efeitos positivos do café vão além da ação antioxidante. Estudos observacionais recentes, como um publicado no BMJ Mental Health, associam o consumo da bebida a telômeros mais longos em pessoas com doenças mentais graves, o que equivale a uma idade biológica cerca de cinco anos menor. Outra pesquisa internacional mostrou uma redução na recorrência de fibrilação atrial entre quem manteve o hábito de tomar café.
Apesar de serem estudos observacionais, que não estabelecem relação de causa e efeito direta, os pesquisadores apontam os antioxidantes do café como uma explicação plausível para esses benefícios. A ciência, portanto, continua a virar a chave, transformando o café de um possível vilão em um aliado da saúde, desde que consumido com moderação e da forma correta.