Saúde sexual do brasileiro: internet redefine intimidade em 20 anos
Saúde sexual do brasileiro: internet muda comportamento

Duas décadas após uma pesquisa histórica sobre os hábitos íntimos dos brasileiros, um novo estudo exclusivo, divulgado pelo Fantástico, revela uma transformação radical na saúde sexual do país. A grande conclusão é que a internet invadiu e redefiniu completamente os comportamentos sexuais da população nas últimas duas décadas.

O que mudou no quarto do brasileiro?

Uma das primeiras mudanças documentadas pela pesquisa é na frequência das relações. A psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, que participou dos dois estudos, confirma que o ritmo diminuiu. Há 20 anos, a média era de duas a três vezes por semana, enquanto hoje é muito mais comum uma ou duas vezes.

Em compensação, houve uma evolução positiva na qualidade. O tempo médio das relações sexuais aumentou de 10 para 15 minutos. Segundo a pesquisa, isso está diretamente ligado a uma maior valorização das preliminares, conectada à necessidade da mulher de encontrar satisfação.

Entretanto, uma reclamação histórica persiste. Se em 2005 uma mulher reclamava que "eles são muito apressados", hoje Gisele, participante do estudo, ecoa o mesmo sentimento: "a pessoa só pensa nele e tchau".

A revolução digital na intimidade

O grande motor dessas transformações foi, sem dúvida, a internet. A pesquisa demonstra que o sexo virtual alterou fundamentalmente a forma como as pessoas buscam prazer.

"Antes tinha que sair, buscar uma parceria", explica Carmita Abdo. "Agora não tem esse problema. Na própria casa, em quatro paredes, diante de uma tela, essa pessoa faz sexo tantas vezes quanto sentir que precisa", seja através de pornografia ou aplicativos de relacionamento.

Este novo comportamento trouxe consequências diretas e mensuráveis. A primeira é o adiamento da iniciação sexual presencial: em 2005, ocorria principalmente a partir dos 15 anos, enquanto hoje 30% dos brasileiros começam depois dos 19 anos.

A segunda consequência é a frustração no sexo real, já que "o contato que a maioria das pessoas tem com sexo na internet é muito diferente da realidade", como observou Caio, outro participante da pesquisa.

Impactos psicológicos e redefinições

O resultado dessa desconexão entre expectativa e realidade é a falha no sexo presencial, gerando ansiedade e temor de performance que afeta principalmente os homens. Impressionantes 71% deles admitem ter medo de não satisfazer a parceira.

O mundo virtual também complicou a definição de infidelidade. Embora 35% dos brasileiros admitam já ter traído, o que constitui uma traição se tornou subjetivo. Gisele acredita que "tanto virtual quanto a presencial" é traição, enquanto Aerton vê nuances: "tem a coisa da curtida, tem a coisa da conversa, tem a coisa do comentário".

O estudo também derrubou mitos importantes. Em 2005, prevalecia a ideia de que homens faziam sexo por prazer e mulheres por afeto. Hoje, essa concepção é "fora de sentido", segundo Carmita Abdo. "Sexo e afeto são coisas completamente dissociadas".

Adriane, participante da pesquisa, atribui essa mudança à transformação feminina: "a mulher está diferente de 20 anos atrás. A liberdade mudou demais. Se permite a falar não, a falar sim".

Apesar dos avanços na conversa sobre sexualidade, Carmita adverte que "nós não vencemos o preconceito". Isso é visível na saúde: enquanto as mulheres vão regularmente ao ginecologista, "o menino sai do pediatra e não vai para ninguém", convivendo com problemas por anos.

Se vinte anos atrás a mulher precisava "ensinar o caminho" ao homem, hoje, com tanta informação disponível, a brincadeira de Bia resume uma nova realidade: "eles que lutem".