
Imagine só: você mora a horas de barco do posto de saúde mais próximo. Uma simples dor de dente vira um pesadelo, e uma gripe mal cuidada pode se tornar pneumonia. É assim que vivem milhares de ribeirinhos e indígenas na região do Arapiuns — até a Expedição ZOE chegar.
Mais que remédios: um sopro de dignidade
Desde o dia 15 de agosto, um barco-hospital — que parece saído de um sonho — navega pelos igarapés carregando não só medicamentos, mas esperança. A equipe, formada por 32 profissionais de saúde, já atendeu mais de 400 pessoas em cinco comunidades.
"A gente vê de tudo: desde crianças com verminose até idosos com problemas crônicos nunca tratados", conta a enfermeira Raquel, enquanto aplica uma vacina numa senhora de 78 anos que nunca tinha sido imunizada. O olhar dela? Não tem preço.
O que a expedição oferece:
- Consultas médicas e odontológicas
- Vacinação em dia (inclusive COVID-19)
- Exames básicos de glicemia e pressão arterial
- Distribuição de medicamentos essenciais
- Orientações sobre planejamento familiar
E não para por aí. Na aldeia indígena Kwatá, os profissionais adaptaram a medicina ocidental aos saberes tradicionais — uma troca que deixou até os mais velhos de queixo caído.
Desafios que dariam um filme
Logística aqui é outra história. Algumas comunidades só são acessáveis na maré cheia, e os equipamentos precisam ser transportados a pé por trilhas alagadas. "Já perdemos as contas de quantas vezes quase caímos na água com os equipamentos", ri o técnico de enfermagem João, enquanto seca o suor da testa.
Mas o pior mesmo? A falta de continuidade. "A gente sabe que em seis meses muitos desses pacientes estarão sem acompanhamento de novo", desabafa uma médica que prefere não se identificar. Uma realidade dura, mas que projetos como esse tentam mudar, mesmo que aos poucos.
A Expedição ZOE continua até 25 de agosto, e promete voltar — se os recursos permitirem. Porque no Arapiuns, como dizem os locais, saúde não é luxo: é direito. Um direito que, finalmente, está chegando pelo rio.