Diabetes: 47,7% dos brasileiros ignoram risco cardíaco da doença
Diabetes: risco cardíaco ignorado por brasileiros

Uma pesquisa inédita realizada pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) revela um dado alarmante: 47,7% dos brasileiros desconhecem que o diabetes representa um grave fator de risco para problemas cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC).

O estudo, que ouviu 1.765 pessoas em diversas regiões paulistas, incluindo capital, interior e litoral, mostrou que a população identifica melhor outros fatores de risco tradicionais, deixando o diabetes em posição preocupante de desconhecimento.

O desconhecimento sobre diabetes e coração

Entre os oito fatores de risco mais comuns para doenças cardiovasculares analisados na pesquisa - que incluem má alimentação, obesidade, hipertensão, sedentarismo, colesterol elevado, fumo e distúrbios do sono - o diabetes só ficou atrás dos problemas de sono em termos de desconhecimento pela população.

O diabetes atinge 10% dos adultos brasileiros, com prevalência de 11,1% entre mulheres e 9,1% entre homens. Entre pessoas com mais de 65 anos, o índice salta para impressionantes 33%, segundo dados do Ministério da Saúde.

A doença crônica se caracteriza por níveis elevados de açúcar no sangue, ocorrendo quando o pâncreas não produz insulina suficiente ou quando o corpo não utiliza adequadamente esse hormônio essencial para transformar glicose em energia.

Complicações silenciosas e perigosas

Quando não controlada adequadamente, o diabetes pode levar a uma série de complicações graves, incluindo:

  • Problemas cardiovasculares (infarto e AVC)
  • Neuropatia (lesão nos nervos)
  • Nefropatia (lesão nos rins)
  • Retinopatia (lesão nos olhos)
  • Amputações de membros inferiores

Estima-se que cerca de 20 milhões de brasileiros convivam com diabetes tipo 2, a versão mais comum da doença, que acomete principalmente adultos e está relacionada a condições como obesidade, histórico familiar e sedentarismo.

Os números são ainda mais preocupantes: até 80% das pessoas com diabetes morrem por causas relacionadas a doenças cardiovasculares.

Sintomas que passam despercebidos

A pesquisa também identificou que 12,4% dos entrevistados não sabiam mencionar os sintomas do diabetes. Entre os que afirmaram conhecer os sinais, 48,3% disseram identificar por viverem com a doença e 39,3% por terem familiares diabéticos.

Os sintomas mais clássicos incluem:

  • Sede constante
  • Vontade frequente de urinar
  • Fome excessiva
  • Fadiga
  • Visão embaçada
  • Cicatrização lenta de feridas
  • Infecções recorrentes (pele, gengiva e trato urinário)
  • Formigamento ou dormência nas mãos e pés

Muitas dessas manifestações são confundidas com outros problemas de saúde ou negligenciadas como algo passageiro, o que retarda o diagnóstico e o tratamento adequado.

Novos tratamentos e esperanças

A medicina avança no combate ao diabetes com novas opções terapêuticas que vão além da tradicional aplicação de insulina. Os chamados agonistas e análogos de GLP-1, conhecidos como canetas antiobesidade e contra diabetes, representam um avanço significativo.

Esses medicamentos oferecem:

  • Controle glicêmico eficaz
  • Perda de peso
  • Proteção cardiovascular e renal
  • Redução de eventos cardiovasculares

Outra novidade promissora são os inibidores do transportador sódio/glicose (inibidores de SGLT2), que atuam bloqueando a reabsorção de glicose e promovendo sua eliminação pela urina. Assim como os primeiros, também oferecem proteção cardiovascular e renal, além de reduzir mortalidade.

É fundamental ressaltar que todos os tratamentos devem ser acompanhados por profissionais médicos, pois cada paciente necessita de conduta personalizada.

Prevenção: a melhor estratégia

Especialistas enfatizam que a adoção de hábitos saudáveis continua sendo a forma mais eficaz de prevenir o diabetes:

  • Alimentação balanceada com menos açúcar, ultraprocessados e fast food
  • Maior consumo de frutas, legumes e alimentos integrais
  • Pelo menos 30 minutos de atividade física três vezes por semana
  • Controle do peso
  • Abstenção do tabagismo
  • Consumo moderado de bebidas alcoólicas
  • Hidratação adequada
  • Sono de qualidade

A pesquisa da Socesp, realizada com 56,6% de mulheres e 43,4% de homens, serve como alerta para a necessidade de ampliar o conhecimento sobre os riscos reais do diabetes. Compreender a gravidade dessa doença é o primeiro passo para mantê-la controlada ou à distância.

Maria Cristina Izar, cardiologista e presidente da Socesp, reforça que o diabetes progride em silêncio e, quando se manifesta claramente, pode ser tarde demais para evitar as piores consequências.