
Imagine a cena: dentro de muros cinzas, onde a esperança parece commodity rara, uma movimentação diferente toma conta dos corredores. Não é revolta, não é confusão - é cuidado. Na última semana, algo extraordinário aconteceu no sistema penitenciário amapaense.
Mais de mil pessoas privadas de liberdade, espalhadas por quatro unidades prisionais, receberam algo que muitos nem lembravam como era: atenção médica digna. Uma verdadeira operação de resgate à saúde, organizada pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), botou o pé na estrada e foi até eles.
Os Números que Contam Histórias
Quando a poeira baixou, os registros mostravam algo que dá orgulho de contar: 1.037 atendimentos realizados. Mas números, sabemos bem, são frios. O que importa mesmo são as histórias por trás deles.
Foram 428 consultas médicas - daquelas em que o doutor realmente para, escuta, examina. Outras 338 avaliações de enfermagem, fundamentais para identificar aqueles casos que precisam de atenção imediata. E não parou por aí: 271 testes rápidos para doenças como HIV, sífilis e hepatites B e C.
Para Além das Estatísticas
O que esses exames representam? Para muitos detentos, a chance de descobrir condições de saúde que nem sabiam ter. E o melhor: com encaminhamento garantido para tratamento. A coordenadora do Núcleo de Saúde no Sistema Penitenciário, Aline Furtado, não esconde o contentamento. "É gratificante", diz ela, com aquela voz que só quem vê resultado tem.
Mas sabe o que é mais impressionante? A logística dessa operação. Quatro unidades visitadas em sequência: o Instituto de Administração Penitenciária (IAP), a Penitenciária de Segurança Máxima, a Unidade de Internação Provisória e o Centro de Progressão Penitenciária. Cada uma com suas particularidades, seus desafios - e todas recebendo o mesmo cuidado.
Um Trabalho que Não Para
Agora, não pense que foi ação isolada. A Sesa mantém, dentro do IAP, um posto de saúde que funciona regularmente. De segunda a sexta, das 8h às 18h, tem profissional disponível para atender os internos. É saúde como direito, não como favor.
E os que precisam de algo mais complexo? São encaminhados para unidades de referência na capital. Porque saúde é coisa séria, e no sistema prisional não poderia ser diferente.
O que essa ação mostra é simples, mas profundo: mesmo atrás das grades, a dignidade humana precisa ser preservada. E saúde - ah, saúde é básico. Quando o poder público consegue unir esforços e fazer chegar atendimento a quem mais precisa, todo mundo ganha. A sociedade, o sistema, e principalmente, aqueles que um dia voltarão para o convívio entre nós.
Fica o exemplo - e a esperança de que iniciativas como essa se multipliquem. Porque cuidar da saúde de quem está preso não é benevolência: é obrigação, é humanidade, é inteligência social.