A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) solicitou a prisão preventiva de uma médica e uma técnica de enfermagem investigadas pela morte do menino Benício Xavier, de apenas 6 anos, em Manaus. O caso, que chocou a capital amazonense, envolve uma série de erros durante um atendimento médico que terminou em tragédia.
Erro na prescrição e aplicação de adrenalina
As investigações apontam que a médica Juliana Brasil Santos prescreveu uma dose incorreta de adrenalina para a criança. A técnica de enfermagem Raiza Bentes, por sua vez, é investigada por ter aplicado o medicamento diretamente na veia do menino, um procedimento considerado de alto risco e que não era o habitual para o paciente.
De acordo com o relato do pai, Bruno Freitas, Benício foi levado ao Hospital Santa Júlia com tosse seca e suspeita de laringite. A prescrição incluía lavagem nasal, soro, xarope e três doses de adrenalina intravenosa. A família estranhou a indicação, pois a criança só havia recebido o medicamento por nebulização anteriormente. A técnica de enfermagem teria admitido nunca ter aplicado adrenalina pela veia, mas seguiu a prescrição.
Logo após a primeira aplicação, o estado de Benício piorou drasticamente. Sua oxigenação caiu para cerca de 75%, levando a equipe a transferi-lo para a sala vermelha e, posteriormente, para a UTI. No período da noite, o menino foi intubado e sofreu várias paradas cardíacas, vindo a falecer no domingo, dia 2 de dezembro, às 2h55.
Médica usava carimbo de pediatria sem ter título
Em uma reviravolta no caso, a polícia descobriu que a médica Juliana Brasil utilizava um carimbo que indicava a especialidade em pediatria, mesmo sem possuir o título oficialmente reconhecido pelo Conselho Regional de Medicina (CRM). O item foi apreendido durante um mandado de busca e apreensão cumprido na casa da profissional na quinta-feira, 18 de janeiro.
O delegado Marcelo Martins, responsável pelas investigações, confirmou que a conduta pode configurar os crimes de falsidade ideológica e uso de documento falso, além de homicídio doloso por dolo eventual. "Todas as regulamentações do Conselho Federal de Medicina indicam que o médico que não possui uma especialização não pode se identificar de nenhuma forma com uma especialidade que ele não possui", afirmou o delegado.
A defesa da médica argumentou à Rede Amazônica que, embora Juliana não tivesse o título de especialista, ela era formada desde 2019 e atuava legalmente na área, acumulando experiência prática. Os advogados informaram ainda que ela pretendia realizar a Prova de Título (TEP) da Sociedade Brasileira de Pediatria ainda em dezembro.
Justiça nega prisão, mas suspende atuação das profissionais
Apesar do pedido de prisão preventiva feito pela polícia, a Justiça do Amazonas decidiu manter ambas as investigadas em liberdade durante o inquérito. A decisão seguiu um parecer do Ministério Público Estadual (MP-AM), que também se manifestou contra a prisão.
No entanto, o juiz Fábio Olintho de Souza determinou a suspensão cautelar do exercício profissional tanto da médica quanto da técnica de enfermagem. Na decisão, o magistrado afirmou que manter Juliana atendendo pacientes, especialmente crianças, representaria um risco à saúde pública. A técnica Raiza Bentes já havia sido afastada de suas funções no dia 1º de dezembro.
O juiz determinou que o CRM-AM, o Conselho Regional de Enfermagem (Coren-AM) e as secretarias estadual e municipal de Saúde fossem comunicados para garantir o cumprimento da medida. O Hospital Santa Júlia, onde ocorreu o atendimento, informou em nota que afastou as duas profissionais e abriu uma investigação interna por meio de sua Comissão de Óbito e Segurança do Paciente.
O pai de Benício, Bruno Freitas, deixou um apelo emocionado: "Queremos justiça pelo Benício e que nenhuma outra família passe pelo que estamos vivendo. O que a gente quer é que isso nunca mais aconteça. Não desejamos essa dor para ninguém". A Polícia Civil continua colhendo depoimentos e analisando documentos para esclarecer todas as circunstâncias do caso.