
Era para ser apenas mais uma viagem. Um daqueles passeios que ficam na memória como um suspiro feliz. Mas a vida, sabe como é, tem seus próprios planos — e nem sempre avisa antes de mudar tudo.
O marido dela, um homem que adorava aventuras, mal podia esperar para conhecer o Chile. Os planos estavam feitos há meses: paisagens deslumbrantes, vinhos excepcionais, aquela sensação gostosa de descobrir um lugar novo juntos. Só que o corpo dele decidiu dar um tempo. Uma embolia pulmonar cruel, daquelas que não dão muita chance de reagir.
O adeus que ninguém esperava
— A gente sempre acha que tem mais tempo, né? — ela diz, com um sorriso triste que parece carregar o peso do mundo. Os olhos vermelhos contam mais do que qualquer palavra poderia.
A família toda se reuniu para aquela que seria, sem que eles soubessem, a última viagem. Não como turistas, mas como uma comitiva de amor prestes a se despedir. O Chile virou cenário de um drama íntimo, desses que doem na alma.
Entre montanhas e lembranças
Nas fotos, ele aparece sorridente — quem diria que aquele seria o último sorriso capturado pela lente? A paisagem majestosa dos Andes fazia um contraste absurdo com a fragilidade humana. A natureza lá, imponente e eterna; a vida dele, um sopro.
— Ele insistiu em subir até certo ponto, mesmo fraco — ela conta, misturando orgulho e dor na voz. — Teimoso até o fim, esse era o jeito dele.
Os médicos haviam dito que era arriscado, mas o coração dele batia mais forte quando desafiava os limites. Talvez soubesse, no fundo, que valia cada minuto roubado.
O retorno mais difícil
A volta para casa foi diferente de tudo o que já haviam vivido. A mala trouxe não apenas lembranças, mas uma ausência que pesava mais do que todas as bagagens juntas. O avião, que antes era sinônimo de aventura, virou um transporte de dor.
— Às vezes eu olho pro céu e penso: será que ele está vendo isso de algum lugar? — ela desabafa, enquanto arruma as coisas dele pela milésima vez. Cada objeto conta uma história, cada peça de roupa guarda um cheiro que vai, aos poucos, se dissipando.
A família se apoia, mas a saudade é um peso que cada um carrega do seu jeito. Os filhos alternam entre raiva e tristeza, ela entre coragem e desespero. O luto, afinal, não vem com manual de instruções.
Um legado de amor e coragem
Se tem uma coisa que ficou clara nessa história toda é que o amor — aquele amor de verdade, que não se mede em palavras fáceis — sobrevive até mesmo à morte. A viagem ao Chile, que deveria ser sobre descobertas, acabou se tornando uma lição brutal sobre o que realmente importa.
— Eu não me arrependo de nada — ela afirma, secando as lágrimas com as costas da mão. — Cada segundo com ele valeu a pena, até os mais difíceis.
E assim, entre memórias e lágrimas, a vida segue. Não como antes, nunca mais como antes, mas seguindo. Porque no fim das contas, é isso que ele teria querido: que ela continuasse, mesmo com o coração em pedaços.