O casamento, instituição mais antiga da civilização, passa por profundas transformações no Brasil contemporâneo. Dados recentes do Censo de 2022 revelam uma revolução doméstica em curso, com mudanças significativas nos arranjos familiares e na distribuição de papéis dentro dos lares brasileiros.
Os números da transformação familiar
As estatísticas do IBGE mostram uma mudança radical no perfil das uniões no país. Os casamentos formais, que incluíam tanto a cerimônia civil quanto a religiosa, caíram de 49,4% em 2000 para apenas 37,9% em 2022. Em contrapartida, as uniões consensuais, que representavam 28,6% dos relacionamentos no início do século, saltaram para 38,9%, tornando-se o tipo de acordo conjugal mais frequente entre os brasileiros.
Outro dado significativo diz respeito às famílias com filhos. Os casais com crianças, que representavam 56,4% no ano 2000, agora constituem apenas 42% do total. Essa redução reflete mudanças profundas nos projetos de vida e nas prioridades dos casais contemporâneos.
A revolução feminina nos lares brasileiros
Um dos aspectos mais marcantes dessa transformação é o crescimento da chefia financeira feminina. As mulheres como principais provedoras do lar saltaram de 22,2% para os atuais 48,8%, alcançando um empate técnico com os homens na liderança financeira das famílias.
Esse movimento está diretamente ligado à liberação feminina e ao acesso ampliado das mulheres ao mercado de trabalho. Trata-se de uma transformação necessária e sem volta, que vem alterando radicalmente a dinâmica dos relacionamentos e a organização familiar.
Diversidade e novos arranjos
A expansão do direito à diversidade de escolhas, independentemente da orientação sexual, deu origem a arranjos familiares que até pouco tempo atrás pareciam improváveis. A sociedade brasileira testemunha uma ampliação significativa no conceito de família, com formatos que vão além do modelo tradicional.
Como destacou a revista VEJA em sua edição de 21 de novembro de 2025, a publicação tem acompanhado minuciosamente essas transformações ao longo de sua história. Desde a aprovação do divórcio no Brasil em meados dos anos 1970 até a recente expansão de alianças que não pressupõem altar religioso nem mesmo registro em cartório, a evolução do casamento reflete os humores de cada tempo.
A reportagem especial, produzida pelas jornalistas Paula Freitas e Duda Monteiro de Barros, da sucursal do Rio de Janeiro, mergulha profundamente nesse tema fundamental. As repórteres, que também mantêm o blog Janela Indiscreta no site de VEJA, analisam a orquestração de modos e maneiras que caracterizam nossas vidas contemporâneas.
O casamento moderno, embora tropece aqui e ali, sobrevive seguindo o ritmo poético de Vinicius de Moraes em seu Soneto da Fidelidade: "que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure". Uma trajetória saudável que precisa ser celebrada e compreendida em toda sua complexidade.