O cenário familiar brasileiro passou por uma transformação significativa na última década, com um crescimento surpreendente nas uniões entre pessoas do mesmo sexo. Os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística revelam uma mudança profunda na composição dos lares do país.
Os números que impressionam
O levantamento do IBGE divulgado em 5 de novembro de 2025 mostrou que as uniões homoafetivas cresceram aproximadamente 727% entre 2010 e 2022. O número saltou de 58 mil para cerca de 480 mil casais no período de doze anos.
A análise detalhada dos dados demonstra que 58% dessas uniões são entre mulheres, enquanto 42% ocorrem entre homens. Outro aspecto relevante é que a maioria dessas relações, 77,6%, acontece de forma consensual, sem registro formal em cartório.
Direitos conquistados e transformação social
Para a advogada Barbara Heliodora, especialista em Direito de Família, esse aumento expressivo reflete diretamente as transformações sociais e a consolidação de direitos fundamentais. "Esses dados revelam uma sociedade mais aberta e consciente de que o amor e a formação familiar não têm gênero", afirma a especialista.
Heliodora destaca que a decisão do Supremo Tribunal Federal em 2011 e a resolução do Conselho Nacional de Justiça em 2013 foram marcos fundamentais para essa mudança. "Essas conquistas jurídicas deram coragem para que mais pessoas formalizassem relações que antes permaneciam invisíveis perante a sociedade", explica.
Atualmente, os casais homoafetivos possuem os mesmos direitos civis que os casais heterossexuais, incluindo:
- Direito à herança
- Pensão por morte
- Adoção conjunta
- Partilha de bens
- Benefícios previdenciários
Desafios além da legislação
A advogada ressalta que, apesar dos avanços jurídicos, ainda existem desafios significativos no campo cultural. "A lei protege igualmente todos os tipos de família. O que ainda precisamos conquistar é o respeito social pleno", afirma Heliodora.
Ela complementa: "A igualdade já está garantida no papel, mas precisa se consolidar completamente no comportamento das pessoas e nas instituições sociais".
No campo religioso, a situação apresenta nuances diferentes. Enquanto o Estado brasileiro é laico e garante o direito ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, cada instituição religiosa mantém autonomia para definir suas próprias regras sobre celebrações.
Em casos de recusa de celebração por parte de instituições religiosas, os casais podem recorrer à via judicial em situações específicas, principalmente quando há violação de direitos ou discriminação evidente.
O crescimento de mais de 700% nas uniões homoafetivas representa não apenas uma mudança estatística, mas um reflexo de uma sociedade brasileira em transformação, mais aberta à diversidade e disposta a reconhecer diferentes configurações familiares como legítimas e dignas de respeito.