Censo 2022: 64% dos moradores de favelas vivem em vias sem árvores
Censo IBGE revela disparidades urbanas em favelas

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta sexta-feira, 5 de abril, um recorte inédito do Censo Demográfico de 2022 focado nas características do entorno dos domicílios localizados em favelas e comunidades urbanas. Os dados revelam um cenário de profunda desigualdade entre essas áreas e o restante das cidades, com indicadores críticos sobre arborização, acessibilidade e infraestrutura viária.

Falta de verde e acessibilidade nas comunidades

Um dos dados mais impactantes mostra que 64% dos moradores de favelas e comunidades vivem em vias sem a presença de nenhuma árvore. Isso representa mais de 10 milhões de pessoas. Em contraste, fora desses territórios, a proporção de brasileiros residindo em trechos de ruas sem arborização cai para 31%.

A disparidade é ainda mais evidente em casos específicos. Na comunidade do Rio das Pedras, no Rio de Janeiro, apenas 3,5% dos moradores vivem em locais com ao menos uma árvore na via. Por outro lado, algumas comunidades apresentam índices melhores, como Sol Nascente, no Distrito Federal, onde 71% dos habitantes têm árvores em suas vias.

A situação das calçadas também é preocupante. Nas 20 maiores favelas do país, apenas 2,4% dos moradores vivem em trechos de calçadas sem obstáculos. Em locais como a Rocinha, no Rio, e Grande Vitória, em Manaus, menos de 0,5% da população usufrui desse benefício. Fora das favelas, esse percentual sobe para 22%.

Pavimentação e limitações para veículos essenciais

A infraestrutura das vias também apresenta um abismo. Enquanto 78% dos moradores de favelas vivem em vias pavimentadas, esse índice salta para 92% fora dessas áreas. O IBGE também mediu a capacidade máxima das vias, um indicador crucial para o acesso de serviços.

Os dados mostram que 62% dos residentes em favelas (também mais de 10 milhões de pessoas) moram em locais onde veículos de grande porte, como caminhões de lixo e ambulâncias, conseguem circular. Fora das comunidades, essa proporção é superior a 93%. Essa limitação tem impacto direto na qualidade de vida e na prestação de serviços essenciais.

Um retrato para orientar políticas públicas

Segundo Leticia Giannella, Gerente de Favelas e Comunidades Urbanas do IBGE, esta é a primeira vez que o instituto consegue evidenciar com clareza essa desigualdade socioespacial. A análise específica das favelas, com o mesmo questionário aplicado dentro e fora delas, permite compreender melhor suas particularidades.

Esse recorte detalhado é considerado fundamental para permitir que o poder público e outras iniciativas direcionem esforços e recursos de forma mais eficiente para territórios com demandas específicas, combatendo as desigualdades históricas no espaço urbano brasileiro.