
Não é exagero dizer que Campinas vive uma epidemia silenciosa — mas não do tipo que se combate com vacinas. Aqui, o vírus é a ausência. Mais precisamente, a falta do nome paterno em certidões de nascimento. Só em 2025, até agosto, já são 227 crianças registradas sem essa informação fundamental. Uma por dia, como relógio.
Os números — que beiram o absurdo — vieram à tona através de um levantamento feito pelos cartórios da região. E olha que a coisa não melhora: em 2024, foram 398 casos. Quase 400 vidas começando com uma lacuna documental.
Mas por que isso acontece?
Conversando com especialistas, a história vai além do "pai irresponsável". Tem mãe que nem sabe onde o genitor está. Tem caso de violência doméstica — "melhor sem nome do que com lembrança ruim", me disse uma assistente social, com a voz embargada. E tem, claro, aqueles pais que simplesmente fogem da responsabilidade como diabo da cruz.
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Numa esquina qualquer da cidade, Maria (nome fictício, é claro) me contou sua saga. "Fiquei grávida durante um namoro rápido. Quando contei, ele sumiu como fumaça. No cartório, até tentei colocar o nome, mas como? Nem sei onde ele está agora." Sua voz tremia — não de raiva, mas de um cansaço que já virou parte da rotina.
O que diz a lei?
Ah, a lei! Ela até permite que a mãe registre sozinha, mas depois a batalha judicial para incluir o pai pode ser digna de novela mexicana. Precisa de testemunha, DNA, e — pasmem — às vezes até do suposto pai concordar. Como se ele, que sumiu no primeiro sinal de responsabilidade, fosse assinar um papel dizendo "sim, fui eu".
Enquanto isso, as crianças crescem. Algumas nem entendem o vazio no documento. Outras carregam a dúvida como peso — "por que meu pai não quis me registrar?" Perguntas que nenhum formulário do cartório sabe responder.