Estudo revela: vírus Epstein-Barr pode desencadear lúpus em 300 mil brasileiros
Vírus Epstein-Barr pode desencadear lúpus, revela estudo

Uma pesquisa revolucionária da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, pode ter desvendado um dos maiores mistérios das doenças autoimunes. Cientistas encontraram evidências concretas de que o vírus Epstein-Barr (EBV) pode ser o gatilho para o desenvolvimento do lúpus eritematoso sistêmico, doença que afeta aproximadamente 300 mil brasileiros.

O estudo, publicado na renomada revista Science Translational Medicine em 24 de novembro de 2025, utilizou métodos avançados de investigação genômica para analisar como a infecção viral reprograma nosso sistema imunológico, fazendo com que ele ataque o próprio organismo.

O elo perdido descoberto

Há décadas a comunidade científica suspeitava da existência de uma conexão entre infecções virais e o surgimento de doenças autoimunes como o lúpus. Agora, os pesquisadores de Stanford conseguiram demonstrar esse mecanismo em nível molecular.

Os cientistas focaram sua atenção nos linfócitos B, células de defesa que são justamente as mais ativas no "autoataque" característico do lúpus. Ao comparar linfócitos B infectados pelo vírus Epstein-Barr com células saudáveis, eles descobriram que a infecção desencadeia uma série de reações imunológicas que reprogramam essas unidades de defesa.

"Os resultados desse estudo fornecem uma base para explicar uma teoria que circula desde a década de 1980 e implica o vírus Epstein-Barr na origem do lúpus", afirma a reumatologista Luciana Costa Seguro, membro da Comissão de Lúpus da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).

Como o vírus reprograma nossa imunidade

O vírus Epstein-Barr pertence à família do herpes e é extremamente contagioso, sendo transmitido por gotículas de saliva. Embora cause principalmente a mononucleose - conhecida como "doença do beijo" - muitos casos são assintomáticos.

A grande revelação do estudo está no mecanismo específico através do qual o vírus consegue "reprogramar" nosso sistema imunológico. Os pesquisadores demonstraram que as células B infectadas pelo EBV ganham características que as tornam particularmente suscetíveis a disparar as agressões inflamatórias típicas do lúpus.

"O Epstein-Barr gosta de infectar justamente os linfócitos B, uma das principais células com a resposta alterada no lúpus e o responsável pela produção dos autoanticorpos", detalha a especialista da SBR.

Impacto no tratamento e prevenção

Esta descoberta representa um avanço significativo na compreensão das doenças autoimunes e abre novas perspectivas para prevenção e tratamento. Compreender o papel do vírus Epstein-Barr no desenvolvimento do lúpus pode levar a estratégias para bloquear essa reprogramação celular.

Os especialistas explicam que o lúpus se manifesta principalmente em pessoas jovens, especialmente mulheres entre 15 e 40 anos, embora também possa afetar crianças. A doença é caracterizada pela produção de autoanticorpos que atacam órgãos da própria pessoa.

"Os estudos indicam que as pessoas desenvolvem a doença em função de uma predisposição genética, mas existem fatores ambientais que desencadeiam o problema em quem já tiver essa suscetibilidade", esclarece a reumatologista.

Esta não é a primeira vez que o vírus Epstein-Barr é associado a doenças autoimunes. Recentemente, pesquisas também apontaram um elo entre o EBV e a esclerose múltipla, reforçando a importância de se entender melhor os mecanismos através dos quais infecções virais podem desencadear respostas autoimunes em pessoas geneticamente predispostas.

A descoberta publicada na Science Translational Medicine representa um marco na medicina, oferecendo não apenas explicações para velhas suspeitas, mas também abrindo caminho para novas abordagens terapêuticas que possam interromper o processo de desenvolvimento do lúpus e outras doenças autoimunes.