Teste EpihTERT: Nova era no diagnóstico do câncer de próstata no Brasil
Teste epigenético revoluciona diagnóstico de câncer de próstata

O câncer de próstata representa um dos maiores desafios na saúde masculina no Brasil. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), 71.730 novos casos da doença são esperados apenas em 2025, mantendo esta como a segunda neoplasia mais comum entre homens brasileiros, atrás apenas dos tumores de pele não melanoma.

Em 2023, 17.093 mortes foram registradas em decorrência do câncer de próstata, o que equivale a uma média alarmante de 47 homens perdendo a vida por dia para esta doença. Esses números destacam a urgência de métodos diagnósticos mais precisos e eficazes.

As limitações do PSA tradicional

Desde a década de 1980, o exame de PSA (antígeno prostático específico) revolucionou o diagnóstico precoce do câncer de próstata. No entanto, este método apresenta limitações significativas que afetam a qualidade do tratamento.

O PSA pode ser produzido tanto por células normais quanto benignas, e não diferencia tumores agressivos de tumores inofensivos. Essa carência de precisão levou a um cenário preocupante: muitos homens receberam tratamentos desnecessários, enfrentando efeitos colaterais graves como disfunção erétil e incontinência urinária sem real necessidade médica.

A revolução epigenética do teste EpihTERT

Diante dessas limitações, surge o EpihTERT, um teste epigenético inovador que promete transformar completamente o diagnóstico e tratamento do câncer de próstata. Esta tecnologia analisa alterações epigenéticas no gene hTERT, oferecendo uma precisão sem precedentes.

Dentro de cada célula, os cromossomos possuem nas extremidades estruturas chamadas telômeros, que funcionam como capas protetoras. A cada divisão celular, esses telômeros se encurtam até que a célula para de se reproduzir - um mecanismo natural de controle do envelhecimento e prevenção do câncer.

As células cancerígenas, porém, burlam este mecanismo através da ativação da enzima telomerase, que reconstrói os telômeros permitindo a multiplicação sem limites. O gene responsável por esta enzima é o hTERT, normalmente "desligado" em células saudáveis, mas reativado nas cancerosas através de alterações epigenéticas.

O teste EpihTERT identifica exatamente essas modificações químicas no DNA, detectando um padrão específico presente apenas em células cancerígenas. Esta abordagem não apenas confirma a presença do câncer, mas também indica com precisão o grau de agressividade do tumor.

Vantagens práticas para os pacientes

Uma das grandes inovações do EpihTERT é sua versatilidade na coleta de amostras. O teste pode ser realizado tanto em tecidos obtidos através de biópsia tradicional quanto em amostras de sangue, conhecidas como biópsia líquida.

Esta flexibilidade significa menos procedimentos invasivos e maior conforto para os pacientes. Além disso, os testes epigenéticos permitem determinar a idade biológica do tecido, e quando esta idade está elevada associada a altos níveis do marcador, o resultado se torna um forte indicativo da presença de um tumor agressivo.

Outro benefício significativo é a possibilidade de personalizar o tratamento conforme as características específicas de cada tumor. Médicos podem avaliar com mais segurança se um tumor requer tratamento imediato ou apenas acompanhamento clínico regular.

O futuro da oncologia de precisão

Enquanto o PSA mostra apenas um sinal indireto de que "algo pode estar errado", o EpihTERT examina diretamente o DNA das células cancerígenas. Esta diferença fundamental permite distinguir com precisão quais tumores exigem intervenção imediata e quais podem ser apenas monitorados.

Os cientistas acreditam que a combinação entre idade biológica e padrões epigenéticos específicos será uma das chaves para o futuro do diagnóstico oncológico. Esta abordagem representa a união da ciência de ponta com uma medicina mais humana e individualizada.

Segundo o uro-oncologista Marcelo Bendhack, presidente da Associação Latino-Americana de Uro-Oncologia e professor da Universidade Positivo em Curitiba, estamos testemunhando uma mudança de paradigma: a transição da medicina "baseada na média" para a era da medicina personalizada.

Nesta nova era, a genética e a epigenética revelam não apenas o que o paciente tem, mas também como e quando tratar, respeitando o ritmo e a biologia de cada indivíduo. O câncer de próstata continuará sendo um desafio, mas ferramentas como o EpihTERT representam um avanço significativo na luta contra esta doença que afeta milhares de homens brasileiros anualmente.