
Imagine poder tratar um tumor cancerígeno com uma precisão quase cirúrgica, mas sem precisar de bisturi. Pois é exatamente isso que a radioterapia estereotáxica corporal promete — e entrega. Sabe aquela sensação de ter na mão uma ferramenta incrível, mas não poder usá-la? É mais ou menos assim que muitos médicos se sentem.
Enquanto no setor privado essa tecnologia já é realidade, no SUS a coisa fica complicada. E olha que não é falta de vontade — é pura e simplesmente uma questão de recursos. A máquina necessária para esse tratamento custa algo em torno de R$ 10 milhões. Dinheiro que, convenhamos, não é exatamente troco de pinga.
Como funciona essa maravilha tecnológica?
Pense na diferença entre atirar com uma espingarda de chumbo grosso e um rifle de precisão. A radioterapia tradicional é a primeira — atinge a área, mas acaba afetando tecidos saudáveis ao redor. Já a estereotáxica? É o sniper da medicina.
Usando coordenadas tridimensionais — sim, igual ao GPS do seu celular, só que muito mais preciso — os médicos conseguem mirar no tumor com uma margem de erro de apenas 1 a 2 milímetros. É tipo acertar um alvo do tamanho de uma moeda a 100 metros de distância. Impressionante, não?
E o melhor: em vez de semanas e semanas de tratamento, são necessárias apenas algumas sessões. Para pacientes com metástases cerebrais ou tumores pequenos, isso pode significar a diferença entre continuar trabalhando ou ficar meses em tratamento.
O que impede que chegue ao SUS?
Ah, aí é que está o X da questão. Além do custo astronômico do equipamento — que, convenhamos, daria para comprar uns cinquenta apartamentos de luxo — tem a questão da manutenção. Essas máquinas são como Ferraris: excelentes, mas caríssimas de manter.
E tem mais: para operar essa tecnologia de ponta, é preciso uma equipe super especializada. Físicos médicos, dosimetristas, radiologistas — todos precisam de treinamento específico. É como ter um avião de última geração, mas sem pilotos qualificados para voá-lo.
Mas calma, nem tudo está perdido. Existem iniciativas — ainda que tímidas — para tentar viabilizar essa tecnologia no sistema público. O problema é que a burocracia anda mais devagar que fila de banco em dia de pagamento.
E os pacientes? Como ficam?
Enquanto isso, quem depende exclusivamente do SUS continua enfrentando tratamentos mais longos, com mais efeitos colaterais e, às vezes, resultados menos eficazes. É duro dizer, mas é a pura realidade.
Pense no senhor João, 68 anos, com um tumor no pulmão. No privado, ele faria três sessões e voltaria para casa. No público? São semanas de tratamento, com todo o desgaste físico e emocional que isso implica.
E não é só questão de conforto — em alguns casos, pode ser questão de vida ou morte. Tumores em locais delicados, perto de órgãos vitais, simplesmente não podem ser tratados com radioterapia convencional. A estereotáxica seria a única opção.
Há luz no fim do túnel?
Alguns hospitais universitários — aqueles que sempre estão na linha de frente — já estão se movimentando para adquirir a tecnologia. Mas é um processo lento, cheio de obstáculos. É como tentar nadar com roupas de inverno — possível, mas extremamente difícil.
Enquanto isso, pacientes, médicos e defensores do SUS seguem na luta. Porque no fundo, todo mundo sabe: saúde de qualidade não é privilégio, é direito. E tecnologia que salva vidas deveria estar ao alcance de todos, não só de quem pode pagar.
O que você acha? Até quando vamos aceitar que a excelência em tratamento médico seja artigo de luxo? A pergunta fica no ar — e a resposta, bem, a resposta depende de todos nós.