Exame de sangue com 95% de precisão pode revolucionar diagnóstico de Alzheimer no SUS
Novo exame de sangue para Alzheimer testado no RS

Teste brasileiro mostra alta eficácia na detecção do Alzheimer

Um novo exame de sangue testado no Rio Grande do Sul demonstrou precisão superior a 95% no diagnóstico da Doença de Alzheimer, podendo representar uma revolução na forma como a doença é identificada no Brasil. A tecnologia, desenvolvida nos Estados Unidos, foi validada pela primeira vez em pacientes brasileiros atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Como funciona o exame revolucionário

O teste identifica alterações na proteína p-tau217, que está diretamente relacionada ao acúmulo de grumos no cérebro - uma das principais características do Alzheimer. O estudo foi aplicado em 59 pacientes atendidos pelo Ambulatório de Demências do Hospital de Clínicas, divididos em três grupos:

  • Pessoas com diagnóstico clínico de Alzheimer
  • Pacientes com demência vascular
  • Grupo controle sem diagnóstico de demência

Segundo Wagner Brum, estudante de medicina e pesquisador envolvido no projeto, a precisão do exame superou os 95% na detecção das alterações da proteína relacionada à doença.

Impacto na saúde pública brasileira

O professor de Farmacologia da UFRGS, Eduardo Zimmer, explica que o exame seria capaz de identificar se a pessoa apresenta proteínas acumulando grumos no cérebro. "A gente pode democratizar o diagnóstico com biomarcadores, que é como chamamos o exame de sangue aqui na população brasileira", afirma Zimmer.

Os resultados, publicados em revista científica internacional, foram comparados com métodos considerados padrão atualmente, como o exame de líquor e o PET CT cerebral. Para o neurologista Raphael Castilhos, do Hospital de Clínicas e professor da UFRGS, o exame pode ser um divisor de águas na identificação da doença no Brasil.

"De fato, entender melhor e fazer o diagnóstico é essencial. No contexto de saúde pública e de atenção primária, pode representar uma grande revolução", destaca Castilhos.

Estudo pioneiro na população brasileira

Uma das grandes inovações da pesquisa foi validar o exame em brasileiros com diferentes perfis. Zimmer ressalta que "na população brasileira, esses estudos eram inexistentes. Pela primeira vez mostramos que, numa população com baixa escolaridade e portadora da doença de Alzheimer, o exame funciona de maneira muito interessante".

O neurologista e pesquisador Wyllians Borelli explica que o diagnóstico precoce é crucial para modificar o curso da doença: "Quanto antes conseguimos identificar a presença dessa proteína, maior o tempo para modificar fatores que determinam o curso da doença".

Borelli destaca que o exame pode ajudar na prevenção e no planejamento de cuidados: "Se identificamos alguém com proteína alta, conseguimos modificar fatores de risco como: hábitos de vida, hipertensão, diabetes e colesterol alto. Isso traz muito mais qualidade de vida para o paciente, precocemente".

Democratização do diagnóstico pelo SUS

Um dos aspectos mais promissores da nova tecnologia é sua potencial aplicação no sistema público de saúde. Borelli ressalta: "Os exames atualmente são muito custosos e não estão disponíveis em todo o Brasil. Nosso foco foi trazer isso para o sangue, porque temos a possibilidade de oferecer esse diagnóstico pelo SUS e beneficiar mais pacientes".

O próximo passo da pesquisa é ampliar os estudos para outras regiões do país, buscando consolidar a eficácia do exame em diferentes populações brasileiras.

Perspectiva das famílias

A nutricionista Sandra Barbiero, que cuida da mãe diagnosticada com Alzheimer há cinco anos, acompanha com expectativa os avanços da pesquisa. "Ela ainda lembra de quem está do lado dela, mas esquece nomes e pessoas que não estão próximas", relata Sandra.

"Estou torcendo por esse resultado. Para nós, familiares, é importante porque a gente vai se preparando. Ter esse diagnóstico precoce é muito bom, porque tu organiza a tua vida para isso", completa a nutricionista, representando a esperança de milhares de famílias que convivem com os desafios da doença.