Microdoses de Ozempic e Mounjaro: a nova moda perigosa para emagrecer
Microdoses de remédios para emagrecer: risco à saúde

Uma nova e preocupante tendência tem ganhado espaço em consultórios e, principalmente, nas redes sociais: o uso de microdoses dos medicamentos Ozempic e Mounjaro para perda de peso. A promessa sedutora é emagrecer com menos efeitos colaterais e gastando menos, mas a realidade por trás dessa prática é repleta de incertezas e riscos, conforme alerta o endocrinologista e pesquisador Carlos Eduardo Barra Couri, da USP de Ribeirão Preto.

O que são as microdoses e por que viraram moda?

Originalmente desenvolvidos para o tratamento do diabetes tipo 2, o Ozempic (semaglutida) e o Mounjaro (tirzepatida) atuam imitando hormônios intestinais que controlam o açúcar no sangue, reduzem o apetite e aumentam a sensação de saciedade. Por esses efeitos, tornaram-se também ferramentas importantes no combate à obesidade, mas sempre com prescrição médica, doses específicas e acompanhamento rigoroso.

Diante dos preços elevados e de efeitos adversos comuns, como náuseas e desconforto gastrointestinal, surgiu a "gambiarra moderna": utilizar doses muito menores do que as oficialmente estudadas e aprovadas. A estratégia, que se espalhou silenciosamente, envolve desde a divisão do conteúdo das canetas injetáveis semanais até a compra de versões manipuladas em farmácias de manipulação.

Os perigos por trás do "atalho" aparentemente seguro

O principal alerta dos especialistas é a total falta de respaldo científico. Não existem estudos que comprovem a eficácia ou a segurança do uso desses medicamentos potentes em microdoses. "Estamos falando de uma prática sem base, que mais parece um experimento pessoal do que um tratamento validado", destaca o Dr. Couri, em material publicado em 2 de dezembro de 2025.

Ao fugir das doses padrão, o paciente se expõe a uma série de perigos:

  • Dose incerta e efeito duvidoso: A divisão caseira da caneta ou o uso de manipulados pode resultar em aplicações com concentração variável, tornando o tratamento ineficaz ou causando reações imprevisíveis.
  • Risco com produtos manipulados: Essas versões não passam pelo mesmo controle de qualidade, estabilidade e segurança dos produtos industriais aprovados pela Anvisa, aumentando o risco de contaminação e falhas na fórmula.
  • Mercado paralelo e fraudes: A prática alimenta um circuito de promessas fáceis, muitas vezes sem qualquer fiscalização, onde a qualidade e a procedência do produto são questionáveis.

O caminho seguro para o tratamento

O endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, que também coordena o Endodebate, é enfático: no campo da saúde, atalhos podem se transformar em armadilhas perigosas. A busca por uma forma "mais leve" de emagrecer não pode colocar em risco a segurança do paciente.

O tratamento da obesidade com esses medicamentos deve ser sempre individualizado, acompanhado por um profissional e realizado com produtos de origem garantida, nas doses estabelecidas por estudos clínicos robustos. A única coisa que emagrece com um atalho mal escolhido é a sua segurança.

Em vez de seguir tendências das redes sociais, a recomendação é buscar o caminho do cuidado bem orientado, onde a saúde está em primeiro lugar, acima de qualquer moda ou promessa de economia duvidosa.