Butantan desenvolve vacina de mRNA contra raiva em dose única até 2026
Butantan cria vacina de mRNA contra raiva em dose única

O Instituto Butantan, localizado em São Paulo, deu um passo significativo no combate a uma das doenças mais letais do mundo. A instituição fechou um acordo de licenciamento e colaboração tecnológica com a empresa norte-americana Replicate Bioscience para desenvolver e comercializar uma nova vacina contra a raiva.

Uma nova esperança contra uma doença fatal

A vacina, chamada RBI-4000, utiliza a tecnologia de RNA Mensageiro (mRNA), a mesma base de imunizantes contra a Covid-19. Diferente das vacinas tradicionais, que usam partes do vírus enfraquecido ou inativo, a plataforma de mRNA emprega um material sintético que instrui as células do corpo a produzirem uma proteína que desencadeia uma resposta imune protetora.

Este projeto é crucial porque a raiva, uma doença transmitida entre animais e humanos, possui uma taxa de mortalidade superior a 99% se não for tratada a tempo. A morte pode ser evitada com a vacinação preventiva, antes que o vírus alcance o sistema nervoso central.

O grande diferencial: reduzir o número de doses

Atualmente, os esquemas de profilaxia pós-exposição ao vírus da raiva exigem a aplicação de múltiplas doses. No Brasil, a recomendação é de quatro aplicações. A grande ambição do novo projeto, segundo o diretor do Butantan, Esper Kallás, é chegar a uma vacina de dose única.

"Mesmo que a gente consiga dar um resultado bom com duas doses, eu ficarei satisfeito. Uma das dificuldades da profilaxia pós-exposição é a dificuldade da pessoa voltar quatro vezes", afirmou Kallás. A simplificação do esquema vacinal é vista como um avanço fundamental para aumentar a adesão e a eficácia do tratamento preventivo.

Próximas etapas e perspectivas

Os primeiros resultados são promissores. Um estudo clínico de fase 1, realizado pela Replicate nos Estados Unidos com 89 voluntários, demonstrou que a RBI-4000 tem um bom perfil de segurança e induz uma resposta imune robusta e duradoura, mesmo em baixas doses.

O próximo marco será um estudo brasileiro, previsto para começar em 2026, que contará com aproximadamente 600 voluntários. "Vamos aprofundar a possibilidade de uma dose mais baixa da vacina, estudar outros esquemas de vacinação mais diversos e tentar reduzir o número de doses necessárias", explicou o diretor do Butantan.

Nos termos do acordo, o Butantan ficará responsável por conduzir os ensaios clínicos de registro e, em caso de sucesso, comercializará a vacina no Brasil e em toda a América Latina. A Replicate transferirá a tecnologia de fabricação para a nova fábrica de mRNA do instituto paulista, que está em fase final de construção, e cuidará dos mercados fora da região latino-americana.

Impacto global e legado tecnológico

A parceria vai além da raiva. Ela posiciona o Butantan como um centro de inovação em saúde e abre portas para o desenvolvimento de outras vacinas usando a mesma plataforma de mRNA. "Se conseguirmos incorporar uma tecnologia nova que servirá de esteira para trazer outras vacinas contra outros agentes infecciosos, empregando o RNA Mensageiro, eu ficarei super feliz", completou Esper Kallás.

A raiva é um problema de saúde global. Endêmica em mais de 150 países, a doença causa cerca de 59 mil mortes por ano no mundo, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença integra a lista de doenças tropicais negligenciadas da OMS e também da agência reguladora norte-americana (FDA), o que destaca a urgência de novas ferramentas de prevenção.

Esta iniciativa representa, portanto, não apenas um avanço científico, mas uma esperança concreta de salvar milhares de vidas em todo o planeta, reforçando a capacidade brasileira em pesquisa, desenvolvimento e produção de imunobiológicos de última geração.