O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu um passo calculado na arena política nesta terça-feira, 23 de dezembro de 2025. Com a assinatura de um decreto presidencial, o governo federal reconheceu oficialmente a música gospel como uma manifestação cultural brasileira.
Um gesto com olho na matemática eleitoral
Analistas políticos veem a medida muito mais como uma jogada de estratégia eleitoral para 2026 do que como uma simples ação de política cultural. Lula, que disputará sua sétima eleição para a presidência, mesmo sendo considerado favorito, está ciente de que a corrida pode ser decidida por margens estreitas, como aconteceu no pleito anterior.
O cálculo é claro: o eleitorado evangélico cresce em número e organização a cada ano e tem um peso decisivo nas urnas. Atualmente, pesquisas indicam que o presidente ainda possui uma significativa desvantagem dentro desse segmento específico de votantes.
O objetivo do decreto, portanto, não é virar o jogo completamente, mas reduzir essa diferença. Em cenários de polarização extrema, avançar alguns pontos percentuais em um grupo-chave pode ser o fator que define o vencedor.
Diálogo e pertencimento além da cultura
O reconhecimento da música gospel vai além de uma mera classificação artística. É uma mensagem de pertencimento e valorização dirigida a uma comunidade que, em muitos casos, sente-se historicamente ignorada ou até mesmo hostilizada por setores da esquerda política.
Trata-se de uma tentativa de abrir um canal de diálogo e demonstrar respeito a suas expressões de fé e cultura. O gesto simboliza um esforço do governo Lula para calibrar sua comunicação e ações perante públicos considerados estratégicos.
A campanha não oficial já começou
Embora a campanha eleitoral de 2026 ainda não tenha começado oficialmente, os movimentos em campo já são visíveis. Este decreto é visto como o primeiro de uma série de ações que devem se intensificar conforme a data do pleito se aproxima.
Espera-se que o governo e a base aliada promovam eventos e políticas direcionadas a outros segmentos decisivos, como mulheres, jovens e comunidades periféricas. A ideia é construir pontes e minimizar resistências em grupos onde a avaliação do governo pode ser melhorada.
Nada indica que este será o último movimento do tipo. A busca por votos que hoje estão mais alinhados a figuras como o senador Flávio Bolsonaro, por exemplo, deve guiar uma série de iniciativas nos próximos meses. Na prática, ainda que sem o discurso formal de campanha, Lula e sua equipe já estão em campo, trabalhando na complexa engrenagem que é a eleição presidencial brasileira.