O Supremo Tribunal Federal (STF) decretou a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro após uma sequência de eventos que teve como ponto crucial uma convocação pública feita por seu filho, Flávio Bolsonaro. A chamada "vigília" organizada pelo senador foi interpretada pelo tribunal como um risco concreto à ordem pública.
O gatilho que partiu da própria família
Na sexta-feira, 21 de novembro de 2025, Flávio Bolsonaro usou suas redes sociais para convocar apoiadores a uma vigília em apoio ao pai. A convocação, embalada em versículos bíblicos e discursos de indignação, rapidamente se transformou em um ato político que mobilizou a base bolsonarista nas ruas e nas plataformas digitais.
Para os ministros do STF, que acompanhavam cada movimento da família há meses, aquela mobilização soou como um alarme. O tribunal enxergou na convocação de Flávio uma reedição da velha estratégia de pressão pelas ruas, similar aos acampamentos que marcaram os anos de 2021 e 2022.
O timing não poderia ser pior. Enquanto a defesa de Bolsonaro insistia na conversão da prisão para domiciliar por questões de saúde, a convocação do filho criou exatamente o cenário que a Justiça tentava evitar: aglomerações, clima de tensão e risco real de confrontos.
Violação da tornozeleira e o momento decisivo
Na madrugada do sábado, 22 de novembro, às 00h08, o sistema de monitoramento registrou a violação da tornozeleira eletrônica que Bolsonaro usava. A ruptura do equipamento, somada à vigília marcada por Flávio, foi interpretada pelo STF não como uma coincidência, mas como possivelmente o início de um plano de fuga.
O tribunal reagiu imediatamente. A combinação entre a convocação pública e a violação do dispositivo de monitoramento forneceu ao STF o motivo claro que buscava para decretar a prisão preventiva. A percepção em Brasília é unânime: sem a iniciativa de Flávio, a prisão poderia ter seguido outro ritmo, talvez até outro formato.
Ironia familiar: o sistema interno de autossabotagem
O episódio revela uma dinâmica familiar que vai além deste caso específico. A família Bolsonaro, que sempre atuou em bloco - às vezes com eficiência, outras vezes de forma impulsiva - parece ter perdido o senso mínimo de estratégia. Flávio se moveu no improviso, sem calcular as consequências jurídicas de seu ato.
Entre aliados do ex-presidente, a sensação é de desconforto. O filho apertou o gatilho jurídico sem perceber que a arma estava virada para dentro de casa. Não é a primeira vez que um Bolsonaro atrapalha outro - basta lembrar o caso de Eduardo Bolsonaro e o "tarifaço" de Trump, hoje superado pelo governo Lula.
A ironia final ficou por conta do próprio destino. Bolsonaro passou anos repetindo que era vítima do "sistema". No desfecho dramático de novembro de 2025, quem o colocou em maus lençóis não foi o sistema, mas seu próprio sangue.
O capítulo ainda não está completamente fechado, mas a lição já está clara: na política brasileira, até as boas intenções familiares podem ter consequências catastróficas quando desconectadas da realidade jurídica.