O debate sobre a possibilidade de Jair Bolsonaro deixar a superintendência da Polícia Federal ou a Papuda por motivos de saúde ganhou força política desde a decretação de sua prisão preventiva no sábado, 22 de novembro de 2025. No entanto, as regras jurídicas para essa situação são mais claras e menos dramáticas do que sugerem aliados do ex-presidente.
Por que a saúde não justifica prisão domiciliar imediata
Conforme explicou o professor e jurista Thiago Bottino, da FGV, em entrevista ao programa Ponto de Vista, só é possível avaliar um eventual relaxamento da prisão depois que o preso estiver no local designado pelo STF. A razão para isso é bastante objetiva: o exame não analisa apenas a saúde do detento, mas também as condições concretas do estabelecimento prisional.
"O exame depende do local em que a pessoa está. Não é só sobre a saúde, mas se aquele ambiente é adequado para o cumprimento da pena", afirmou Bottino. Essa avaliação conjunta só pode ser feita quando o preso já está sob custódia do Estado.
Laudos médicos: particulares não substituem oficiais
O jurista esclareceu outro ponto importante que tem causado confusão entre apoiadores de Bolsonaro: laudos médicos particulares não têm valor decisório no processo. Embora o ex-presidente possa apresentar documentação de seus médicos, apenas profissionais contratados pelo Estado possuem fé pública para subsidiar a decisão do ministro Alexandre de Moraes.
"O ex-presidente pode ter seus médicos particulares, mas é preciso um médico contratado pelo Estado. A responsabilidade dele é com a administração pública", explicou Bottino.
Esse profissional oficial avalia dois elementos em conjunto:
- O estado de saúde do preso, com base na documentação médica fornecida pela defesa
- As condições da unidade prisional, incluindo higiene, segurança, acessibilidade e infraestrutura médica disponível
Somente a combinação desses fatores pode justificar uma eventual transferência para prisão domiciliar.
Timing jurídico: por que não adianta antecipar pedido
A defesa de Bolsonaro tem tentado antecipar o debate sobre suas condições de saúde, alegando fragilidade clínica e propondo sua permanência no regime domiciliar desde já. No entanto, juristas ouvidos pela imprensa argumentam que o timing está invertido.
Bottino reforça que não há base jurídica para avaliar a compatibilidade entre o preso e o local onde ele ainda não está. "É por isso que muitos juristas dizem que o pedido só pode ser feito depois. Não é uma questão formalista — é porque o exame depende do local."
Próximos passos no caso Bolsonaro
O ex-presidente deve passar por um procedimento padrão aplicado a qualquer preso que alegue fragilidade de saúde:
- Entrada formal na unidade prisional indicada pelo STF
- Avaliação médica oficial feita por profissional do Estado
- Análise das condições da cela e da ala onde estiver alocado
- Decisão de Alexandre de Moraes sobre eventual permanência, transferência interna ou conversão da pena em domiciliar
Este é o mesmo procedimento aplicado a qualquer cidadão que alegue problemas de saúde durante o cumprimento de pena, incluindo outras figuras públicas que já passaram por situações similares.