O ano de 2025 foi marcado por turbulências históricas na política brasileira, estabelecendo um cenário complexo para o período eleitoral de 2026. Em um resumo do último dia do ano, é possível destacar cinco acontecimentos fundamentais que moldaram os últimos doze meses e deixaram heranças para o futuro imediato do país.
Condenação histórica dos envolvidos nos atos golpistas
Um dos episódios que dominou o noticiário ao longo de todo o ano foi o julgamento e a condenação dos envolvidos nos atos golpistas. Pela primeira vez na história do Brasil, figuras de alto escalão, incluindo generais e um ex-presidente, foram processadas, sentenciadas e efetivamente encarceradas por crimes contra a democracia.
O núcleo central do processo parou o país, com o ex-presidente Jair Bolsonaro no centro das atenções. Durante as audiências, Bolsonaro chegou a fazer um comentário irônico ao ministro Alexandre de Moraes, convidando-o para ser seu vice na disputa de 2026, ao que o magistrado respondeu com um seco "eu declino".
A sentença final condenou Bolsonaro a mais de 27 anos de prisão. A execução da pena foi antecipada após a Polícia Federal detectar uma tentativa do ex-presidente de romper sua tornozeleira eletrônica utilizando uma máquina de solda. Este capítulo representou uma ruptura com um histórico de impunidade que, por décadas, permitiu a repetição de ameaças à ordem democrática.
A queda de Eduardo Bolsonaro e a diplomacia Lula-Trump
Enquanto o processo judicial avançava no Brasil, Eduardo Bolsonaro, o terceiro filho do ex-presidente, tentou articular uma trincheira de resistência a partir dos Estados Unidos. Por um período, sua estratégia pareceu obter sucesso.
O presidente americano Donald Trump chegou a ameaçar o Brasil, exigir o fim do processo contra Bolsonaro, impor tarifas pesadas e aplicar sanções da Lei Magnitsky contra ministros do Supremo Tribunal Federal, como Alexandre de Moraes.
Contudo, a dinâmica mudou radicalmente após um encontro de 39 segundos entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Assembleia Geral da ONU, em setembro. Trump declarou sentir uma "química" com Lula, o que abriu caminho para novos contatos telefônicos e pessoais. As ameaças foram abandonadas, as tarifas reduzidas e as sanções, suspensas. Eduardo Bolsonaro terminou o ano politicamente cassado e abandonado por seu antigo aliado internacional.
Conflitos institucionais e a fragmentação da direita
As brigas entre os Poderes foram uma constante em 2025. Executivo, Legislativo e Judiciário se envolveram em uma série de desentendimentos públicos, sem que nenhum ator conseguisse resolver definitivamente o quadro de tensão.
Um exemplo emblemático foi a tentativa do ministro Gilmar Mendes de alterar a lei do impeachment para restringir quem poderia pedir a cassação de um ministro do STF. A manobra, que recuou em parte, foi interpretada como um alerta do Supremo para que o tema não virasse bandeira de palanque no ano eleitoral seguinte.
No campo político, a direita se mostrou profundamente dividida. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, esperou a benção de Jair Bolsonaro durante meses, chegando a criticar o STF publicamente para agradar ao chefe. No entanto, Bolsonaro optou por manter a candidatura presidencial dentro da família, escolhendo seu filho Flávio Bolsonaro.
A decisão causou mal-estar. Michelle Bolsonaro fez publicações aludindo a "traição", e outros nomes da direita seguiram seus próprios caminhos: o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, mantém sua pré-candidatura; o PSD, sob Gilberto Kassab, prepara o lançamento de Ratinho Junior; e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, também sinaliza com uma disputa.
Da anistia à "dosimetria" e os tremores do Banco Master
Diante das condenações, setores da direita e do centrão tentaram aprovar um projeto de anistia ampla, que chegou a prever o perdão para crimes ainda não cometidos – uma inédita "anistia prévia". A proposta, porém, não vingou.
No seu lugar, o Congresso aprovou a redução de penas, popularizando o termo "dosimetria" no vocabulário político nacional. A decisão final sobre o tema, no entanto, foi adiada para 2026, adicionando mais um elemento de incerteza ao próximo ano.
Outra pendência de alto impacto é a liquidação do Banco Master, um caso que provocou um terremoto político e jurídico. As investigações colocaram ministros do STF na berlinda e ameaçam atingir diversas figuras políticas.
O ministro Alexandre de Moraes foi questionado sobre um contrato de assistência jurídica que sua esposa teria com o banco e sobre um suposto contato com o presidente do Banco Central. O ministro Dias Toffoli, por sua vez, chamou o caso para si após um voo para Lima na companhia do advogado de um dos réus, e tem tomado decisões controversas. O banqueiro Daniel Vorcaro, dono do banco quebrado, possui conexões com poderosos de diversos setores, prometendo que este caso ainda dará muito o que falar em 2026.
Em síntese, 2025 foi um ano de definições judiciais históricas, realinhamentos diplomáticos inesperados, conflitos institucionais e fragmentação política. Todos esses elementos criam um cenário explosivo para 2026, que será um ano eleitoral e promete ser ainda mais intenso e decisivo para o futuro do Brasil.