Indicação de Messias ao STF causa crise entre governo Lula e Senado
Crise no Senado após indicação de Messias ao STF

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desencadeou uma crise política no Senado Federal ao confirmar a indicação do Advogado-Geral da União, Jorge Messias, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal. A decisão, anunciada nesta quarta-feira, 20 de novembro de 2025, provocou uma imediata reação negativa das principais lideranças do Senado.

Ruptura na comunicação

Imediatamente após o anúncio da indicação, os telefones do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) foram desligados para o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA). Os dois senadores deixaram clara sua insatisfação com a forma como o petista articulou a defesa do nome de Messias ao Supremo.

A avaliação entre os parlamentares é que Jaques Wagner agiu de forma deselegante, tratando a indicação do AGU como certa antes mesmo do próprio Lula tomar sua decisão final. Essa postura foi considerada inadequada pelos principais articuladores do Senado.

Consequências para o governo

Sem interlocução com Alcolumbre e Pacheco, Jaques Wagner enfrentará enormes dificuldades para avançar com as pautas do governo no Senado. Os dois senadores são considerados os principais articuladores da Casa e, até então, vinham trabalhando para garantir a aprovação das propostas do Executivo.

A parceria que existia no Senado, personificada na figura de seu presidente, tende a se evaporar na esteira da escolha de Lula para o Supremo. Alcolumbre defendia abertamente a indicação de Pacheco, considerado por seus pares um nome qualificado para a vaga aberta pela aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso.

Risco de reprovação e retaliações

Além do trabalho hercúleo que o governo terá para pavimentar a aprovação de Messias no Senado, Lula corre o risco real de ver seu indicado reprovado pelos senadores. Um cenário que não se repete há 129 anos, desde o governo de Floriano Peixoto.

Alcolumbre não fez questão de esconder sua contrariedade, numa sinalização clara de que haverá retaliações. Na visão dos senadores que apoiavam Pacheco, a vaga de Barroso caiu no colo de Lula - que antecipou sua saída - e era esperada uma deferência ao ex-presidente do Senado.

Rodrigo Pacheco era visto como quem defendeu a democracia e as instituições durante momentos críticos, incluindo o ápice da pandemia, quando garantiu a vacina nos braços dos brasileiros diante de iniciativas consideradas heterodoxas no governo Bolsonaro.

Na transição presidencial, Pacheco, no cargo de presidente do Senado, conduziu as tratativas e votações que garantiram uma mudança de governo dentro de certa normalidade para Lula assumir. No Senado, sua indicação ao STF era vista como uma justa retribuição aos serviços prestados ao país.

Agora, após o apagão nos celulares dos principais líderes do Senado, resta saber se Lula e Jaques Wagner encontrarão outra forma de restabelecer o contato e recompor a relação com o Legislativo.