PGR aprovado por 45 votos alerta sobre dificuldades de Messias no STF
Aprovação apertada de PGR sinaliza risco para Messias no STF

A recondução de Paulo Gonet ao comando da Procuradoria-Geral da República (PGR) com o placar mais apertado desde a redemocratização está sendo interpretada como um sinal de alerta para o governo Lula. Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e senadores de diferentes espectros políticos veem no resultado uma demonstração das dificuldades que Jorge Messias enfrentará caso seja indicado para uma vaga no Supremo.

O placar que preocupa o Planalto

Paulo Gonet foi reconduzido ao cargo de Procurador-Geral da República por 45 votos a favor e 26 contra. Este foi o resultado mais apertado desde o processo de redemocratização do país, superando inclusive a votação do ministro Flávio Dino, que havia sido aprovado por 47 votos a 31.

A diferença significativa em relação à primeira indicação de Gonet, quando obteve 65 votos favoráveis, reflete a campanha da oposição contra o procurador após ele ter denunciado Jair Bolsonaro no processo da trama golpista. O ex-presidente foi condenado a 27 anos e três meses de prisão no caso.

O cenário político no Senado

Para a indicação de Messias ao STF ser aprovada, o governo precisa do apoio mínimo de 41 dos 81 senadores em votação secreta. A percepção geral entre parlamentares é que o resultado da votação de Gonet fortalece o grupo do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que não esconde sua preferência pela indicação do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Sem o apoio do bloco de Alcolumbre, o governo dificilmente conseguirá os votos necessários para confirmar o nome do atual advogado-geral da União para o cargo de ministro do Supremo.

As estratégias em jogo

Integrantes do Planalto minimizam os efeitos do placar apertado de Gonet sobre a eventual indicação de Messias. Eles avaliam que o resultado reflete a conjuntura atual do Senado e que Lula já está ciente das dificuldades, mas mantém o apoio público ao chefe da AGU.

A expectativa do governo é que as resistências diminuam uma vez que o nome seja oficialmente indicado. Há também a avaliação de que votar contra Messias com o objetivo de forçar a escolha de Pacheco seria atuar contra o próprio Lula.

O presidente da República tem sinalizado que pode indicar Pacheco para uma futura vaga no STF, caso seja reeleito para seu quarto mandato, mas insiste que o senador dispute o governo de Minas Gerais com seu apoio.

Na oposição, o líder Rogério Marinho (PL-RN) evita comparar diretamente os dois cenários, mas afirma que o resultado mostra que a oposição pode derrotar o governo caso os blocos da base aliada rachem. Marinho já declarou que votará pessoalmente contra Messias, assim como votou contra Cristiano Zanin, alegando que Lula prometeu não nomear seu advogado, amigo ou aliados políticos para o STF.

Integrantes da oposição ressaltam que os 26 votos contrários a Gonet ocorreram mesmo sem uma mobilização organizada, já que Bolsonaro está isolado, em prisão domiciliar e sem acesso às redes sociais.

Nos bastidores, um líder do centrão revelou que seu voto dependerá da orientação de Alcolumbre, enquanto outro destacou que Gonet só não foi rejeitado graças à atuação dos líderes do MDB, Eduardo Braga (AM), e do PSD, Omar Aziz (AM).

Dois ministros do STF ouvidos pela reportagem corroboram a percepção dos senadores. Um deles classificou o placar como um sinal bem ruim, especialmente às vésperas da indicação de um novo ministro para a Corte. Outro viu na votação uma mensagem clara para o governo sobre a escolha para o Supremo.