Vazamento ultrassecreto: jornalista entra por engano em chat do governo Trump sobre ataque no Iêmen
Vazamento ultrassecreto em chat do governo Trump sobre Iêmen

Um vazamento de informações ultrassecretas do governo dos Estados Unidos, envolvendo um ataque militar no Iêmen, gerou uma crise de segurança nacional e expôs falhas graves na comunicação entre altas autoridades. O caso, revelado nesta quinta-feira (4), coloca em xeque os protocolos de segurança da administração do presidente Donald Trump.

O Vazamento no Aplicativo de Mensagens

O órgão independente de fiscalização do Pentágono divulgou um relatório contundente, acusando o secretário de Guerra dos Estados Unidos, Pete Hegseth, de colocar tropas americanas em risco. A investigação aponta que Hegseth utilizou o aplicativo de mensagens Signal, uma rede não aprovada e considerada insegura pelo governo, para trocar informações sigilosas sobre um bombardeio contra o grupo rebelde Houthis no Iêmen, ocorrido em março deste ano.

De acordo com o inspetor-geral do Pentágono, Steven Stebbins, o secretário enviou dados não públicos do Departamento de Defesa que identificavam detalhes críticos da operação. “A quantidade e os horários de ataque de aeronaves tripuladas dos Estados Unidos sobre território hostil” foram compartilhados por um canal inadequado, conforme o documento oficial.

O relatório é claro ao afirmar que “o uso de um telefone celular pessoal para realizar tarefas oficiais e enviar informações não públicas do Departamento de Defesa por meio do Signal implica um risco potencial de comprometimento de informações sensíveis”. Essa prática, segundo os investigadores, poderia causar danos diretos ao pessoal militar e prejudicar os objetivos das missões.

O Jornalista no Meio do Grupo Secreto

A situação ganhou contornos de constrangimento internacional quando se descobriu que um jornalista teve acesso a todas essas comunicações. Jeffrey Goldberg, editor-chefe da revista “The Atlantic”, foi adicionado acidentalmente ao grupo de mensagens do Signal onde as estratégias ultrassecretas eram discutidas.

O grupo incluía, além de Hegseth, figuras de alto escalão como o conselheiro de Segurança Nacional Mike Waltz, o vice-presidente J.D. Vance e o secretário de Estado, Marco Rubio. Goldberg relatou que tudo começou em 11 de março, quando recebeu um contato no app de alguém identificado como “Michael Waltz”. A confirmação de que as mensagens eram reais veio apenas quando os ataques anunciados no chat de fato ocorreram, dias depois, lançados de porta-aviões americanos no Oriente Médio.

O “The New York Times” classificou o episódio como “uma falha extraordinária de segurança”. Os diálogos vazados revelam ainda críticas ácidas de autoridades americanas a aliados europeus. Ao discutir os ataques aos Houthis, que bloqueiam rotas marítimas na região, o vice-presidente Vance minimizou o interesse americano, afirmando que apenas “3% do comércio americano passa pelo Canal de Suez”, contra “40% do comércio europeu”.

“Eu apenas odeio salvar a Europa de novo”, criticou Vance, sugerindo que a operação beneficiaria mais os europeus. Hegseth concordou veementemente: “Eu compartilho totalmente do seu desprezo pelos aproveitadores europeus. É PATÉTICO”.

Crise Política e Reações no Congresso

O caso desencadeou uma forte reação no Congresso dos Estados Unidos, transformando-se em uma das primeiras grandes crises do segundo mandato de Donald Trump. Parlamentares democratas e republicanos passaram a pressionar a Casa Branca por medidas concretas. Alguns opositores chegaram a pedir a demissão do secretário Hegseth e do conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz.

Em meio à polêmica, o presidente Trump e o próprio Hegseth tentaram minimizar a gravidade do ocorrido, negando que dados verdadeiramente sigilosos tenham sido compartilhados. No entanto, em um movimento que reconhece o problema, Trump determinou que o governo avalie a segurança do aplicativo Signal para uso em comunicações sobre assuntos de Estado.

A investigação independente, aberta em abril e conduzida pelo inspetor-geral do Pentágono, segue apurando todas as circunstâncias do vazamento. O órgão tem autonomia para investigar irregularidades dentro do Departamento de Defesa, e seu relatório inicial já aponta falhas protocolares graves. O episódio deixa uma sombra sobre os métodos de comunicação da cúpula do governo americano e levanta questões urgentes sobre a proteção de informações que podem colocar vidas em risco.