Trump recua em tarifas após 100 dias de pressão sobre o Brasil
Trump reduz tarifas após pressão no Brasil

O presidente americano Donald Trump anunciou uma significativa mudança em sua política de tarifas contra o Brasil, após mais de 100 dias de medidas que custaram caro tanto aos consumidores americanos quanto à própria popularidade do mandatário.

O recuo estratégico de Trump

Na sexta-feira, 14 de novembro de 2025, mesmo dia em que se esgotava o prazo para a proclamação do veredito do Supremo Tribunal Federal sobre Jair Bolsonaro, Trump deu a primeira guinada em sua política tarifária. O presidente americano anunciou uma redução de 10% na tarifa extra sobre café, carne, açaí e uma ampla lista de produtos exportados pelo Brasil.

Esta mudança representa um recuo significativo na estratégia que havia sido anunciada em 2 de abril como principal medida para os Estados Unidos recuperarem a hegemonia econômica nos planos da MAGA. A medida original incluía uma tabela semelhante a um cardápio de restaurante popular, listando países prioritários para sanções tarifárias.

A tentativa de interferência no STF

A crise teve início em 9 de julho, quando Trump usou sua rede Truth Social para enviar uma carta ao presidente Lula exigindo a suspensão "IMEDIATA" do julgamento de Bolsonaro. A ameaça era clara: caso contrário, imporia um tarifaço extra de 40% sobre produtos brasileiros que seriam taxados em 50% em agosto.

Segundo a análise, a pressão foi influenciada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o "filho 03", em conjunto com o economista Paulo Figueiredo, neto do último ditador brasileiro. A estratégia, no entanto, não surtiu efeito junto ao Supremo Tribunal Federal, que manteve o julgamento e preservou a soberania brasileira.

Em uma ironia do destino, no mesmo 14 de novembro, a Primeira Turma do STF aceitou denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet, contra Eduardo Bolsonaro por tentar obstruir o julgamento do pai.

O impacto nos consumidores americanos

O verdadeiro motivo para a mudança de postura de Trump veio do bolso do eleitor americano. Os preços de produtos brasileiros nos Estados Unidos dispararam, causando descontentamento generalizado que se refletiu nas urnas com vitórias democratas.

Dados do Wall Street Journal revelam que os preços do café torrado moído subiram mais de 40% em relação a setembro do ano passado. A carne moída teve aumento de 11,5% e as bananas, 8,6% - bem acima da taxa de inflação geral de cerca de 3%.

O jornal New York Times noticiou que "o presidente decidiu reduzir em 10% os impostos sobre carne bovina, café e dezenas de outros produtos agrícolas e alimentícios, marcando uma reversão significativa de suas chamadas taxas recíprocas".

A virada nas relações bilaterais

O ponto de inflexão nas relações entre os governos Trump e Lula ocorreu em 23 de setembro, durante a Assembleia Geral da ONU. Segundo relatos, os dois presidentes cruzaram no acesso ao púlpito e trocaram 39 segundos de "boa química", nas palavras do próprio Trump.

O discurso de Lula na ocasião foi descrito como "belo, lúcido e corajoso", chamando a atenção do presidente americano para a realidade dos fatos, diferente da narrativa que lhe haviam apresentado.

Enquanto isso, no Brasil, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e outros aliados bolsonaristas que haviam comemorado as tarifas americanas, tiveram que recuar quando as lideranças da indústria paulista cobraram uma mudança de posição em defesa dos interesses nacionais.

Resiliência brasileira e dependência americana

Embora exportadores brasileiros de café, frutas frescas, peixes, açaí, mel e carne tenham sofrido pesados prejuízos, a capacidade de resiliência do Brasil mostrou-se maior que a dos Estados Unidos. O país, que tem a China como maior comprador, não se acomodou e saiu em missões pelo mundo em busca de novos mercados.

Já os Estados Unidos descobriram que não têm alternativas viáveis para encontrar volumes equivalentes de carne, café, mel, madeira serrada, peixes, açaí, frutas e equipamentos que integrem a cadeia produtiva das multinacionais que operam no Brasil.

O resultado foi o salto da inflação americana, temida pelo presidente do Federal Reserve Bank, Jerome Powell, que se mostrava cauteloso quanto à baixa de juros.

Com a derrota republicana nas eleições regionais da semana anterior, alertando para o risco de perda da maioria no Congresso em 2026, Trump percebeu o erro estratégico e iniciou a guinada gradual para não declarar o fracasso total de sua política tarifária.