O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump recebeu o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, nesta segunda-feira (29), em sua residência de Mar-a-Lago, na Flórida. Este foi o quinto encontro entre os dois líderes neste ano nos EUA, realizado a pedido do israelense.
Indulto e ameaças ao Irã na pauta
Após a reunião, Trump afirmou que um pedido de indulto feito por Netanyahu ao presidente israelense, Isaac Herzog, estaria "a caminho". O pedido formal foi feito em novembro, relacionado a um processo que investiga suposto esquema de corrupção envolvendo o premiê. No entanto, o gabinete de Herzog negou que o presidente tenha conversado com Trump sobre o assunto desde o pedido.
Em paralelo, o republicano fez uma dura advertência ao Irã. Ele declarou que os Estados Unidos atacariam novamente instalações iranianas caso o país persa retome seu programa nuclear, alvo de bombardeios americanos em junho. "Ouvi dizer que o Irã está tentando se reconstruir, e se estiver mesmo, temos que acabar com isso", disse Trump. "Vamos acabar com eles de vez." Apesar da ameaça, ele reiterou estar aberto a negociar um acordo, que chamou de saída "muito mais inteligente".
Impasse na segunda fase do cessar-fogo em Gaza
A expectativa em torno do encontro era de que os líderes anunciassem os próximos passos para a trégua em Gaza, uma das principais conquistas do primeiro ano de Trump desde seu retorno à Casa Branca em janeiro. Ao receber Netanyahu, Trump afirmou que "a reconstrução de Gaza começará em breve" e que espera chegar à segunda fase do plano de cessar-fogo "muito rapidamente".
No entanto, funcionários americanos temem que tanto Israel quanto o grupo Hamas estejam protelando essa segunda etapa. Trump disse ter conversado com Netanyahu sobre o Hamas e afirmou que o grupo terrorista "terá pouco tempo para se desarmar", alertando que "haverá consequências" em caso de descumprimento.
A porta-voz do governo israelense, Shosh Bedrosian, já havia adiantado que Netanyahu abordaria a fase dois do acordo, que implica garantir que "o Hamas seja desarmado, e Gaza, desmilitarizada". Ela também indicou que o premiê tentaria mudar o foco do encontro para o Irã, pressionando por mais ataques americanos contra o programa nuclear de Teerã.
Pressão americana e contexto eleitoral israelense
Analistas apontam que o momento da reunião é "muito significativo", conforme destacou Gershon Baskin, copresidente da comissão de construção da paz "Alliance for Two States". "A fase dois precisa começar", afirmou. "Os americanos percebem que já é tarde porque o Hamas teve tempo demais para restabelecer sua presença."
Yossi Mekelberg, analista do Chatham House, observou que há sinais crescentes de frustração do governo americano com Netanyahu, que poderia estar tentando desviar a atenção de Gaza para o Irã justamente quando Israel entra em um ano eleitoral. "Tudo está relacionado com permanecer no poder", afirmou sobre o veterano premiê.
Enquanto isso, os esforços diplomáticos continuam. O enviado de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, e seu genro, Jared Kushner, receberam representantes de Qatar, Egito e Turquia em Miami no início do mês. Há ainda a intenção, segundo o site Axios, de Trump convocar a primeira reunião de um novo "Conselho de Paz" para Gaza no Fórum de Davos, em janeiro.
A Síria também esteve na pauta. Netanyahu disse que Israel está empenhado em garantir uma fronteira pacífica com o país, e Trump afirmou estar confiante de que os líderes de ambos os países se entenderão.